Coppe se despede de 2020 com premiação e mensagem de esperança
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Data: 23/12/2020
O protagonismo da Ciência e dos pesquisadores em 2020 no enfrentamento da Covid-19 marcou os pronunciamentos na emocionante cerimônia de entrega do Prêmio Coppe Mérito Acadêmico 2020, nesta quarta-feira, 23 de dezembro. Transmitida ao vivo pelo canal da Coppe no YouTube, a cerimônia fez parte da programação do evento de encerramento das atividades acadêmicas.
“A Ciência fez muito esse ano. Nunca se fez tantas vacinas boas, eficazes, seguras, em tão pouco tempo. A vacinação está aí. Mas a curva de contaminação está ascendente. A situação está prestes a explodir. Os meses de janeiro e fevereiro serão muito difíceis. Vamos esperar mais alguns meses para que possamos curtir nossas famílias em segurança”, ressaltou emocionada a professora Leda Castilho, vencedora do Prêmio Lobo Carneiro por sua destacada contribuição no enfrentamento à pandemia de Covid-19.
Segundo o diretor da Coppe, professor Romildo Toledo, a pandemia respondeu claramente a uma pergunta feita pelo neurocientista, Sidarta Ribeiro, ao proferir a Aula Inaugural da Coppe em março deste ano: Qual o preço de não termos Ciência? “A esta pergunta acrescento: qual o preço que pagaríamos se o processo de desarticulação das instituições públicas e do SUS já estivesse ainda mais adiantado? Os cortes orçamentários impostos ao MEC e ao MCTI foram enormes; a complexidade burocrática, infelizmente, aumentou. Precisaremos de muita união e coesão interna para enfrentar esse ataque. Temos que fazer valer a autonomia universitária, que é um princípio constitucional”, ressaltou Romildo.
Em sua 18ª edição, o Prêmio Coppe Mérito Acadêmico contemplou os professores Frederico Wanderley Tavares, do Programa de Engenharia Química (PEQ), vencedor do Prêmio Giulio Massarani na categoria docente sênior; Gabriela Ribeiro Pereira, do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PEMM), e João Paulo Bassin (PEQ), que receberam o Prêmio Giulio Massarani na categoria docente jovem; e Leda Castilho (PEQ), agraciada com o Prêmio Lobo Carneiro.
Para o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão da Rocha, a universidade reagiu de maneira muito positiva ao desafio imposto pelo coronavírus. “A reação superou as minhas expectativas. A atuação do Grupo de Trabalho, a criação da Central de Testagem, a professora Leda foi importantíssima em várias iniciativas. Foram destacadas as atuações da Coppe, do Centro de Ciências da Saúde, da Escola de Química. Até nos transformarmos em sistema fabril para produzir álcool, nós tentamos. Para um economista – sobretudo os liberais, que não é o meu caso – é sempre um desafio entender como alguém pode trabalhar de graça. É muito amor que nós temos pela universidade”.
Do diagnóstico mais acessível à vacina brasileira
A professora Leda Castilho fez uma série de agradecimentos a todos que contribuíram para viabilizar a instalação do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares (LECC), pioneiro do gênero no Brasil, que desde março expressa, produz e purifica a proteína S (spike) da espícula do novo coronavírus. Criadora e coordenadora do LECC, Leda foi apresentada por um de seus orientadores de mestrado e amigo, o professor da Escola de Química da UFRJ Ricardo Medronho.
Com a proteína S, o laboratório desenvolve testes de diagnóstico Elisa (S-UFRJ) mais eficientes e baratos do que o modelo padrão de laboratórios privados; imunoterapia com soro de cavalo (150 vezes mais potente que o plasma humano). Também estão em desenvolvimento no laboratório a produção de anticorpo monoclonal humano anti-Sars-Cov 2, anticorpo monoclonal biossimilar ao tocilizumabe, em teste no combate à tempestade inflamatória da Covid, e uma vacina nacional contra o coronavírus, já em testes pré-clínicos. Tais iniciativas vêm sendo implementadas em parceria com outras instituições de pesquisa.
Em seu pronunciamento, Leda enalteceu a atuação de seus alunos, destacados na figura da pesquisadora Renata Alvim, seu braço-direito no LECC, e compartilhou com o público uma lista de “sonhos para o futuro”. “Que nossas tecnologias possam ajudar o Brasil a produzir biofármacos reduzindo déficit da balança na área da saúde; que possamos desenvolver biofármacos inovadores e não apenas biossimilares; que nossas proteínas recombinantes resultem em vacina multivalente de baixo custo para o SUS; que possamos ajudar a reduzir as desigualdades sociais de nosso país, e que possamos superar a burocracia imposta à docência e à pesquisa”, almejou a professora do Programa de Engenharia Química da Coppe.
A pesquisadora agraciada com o Prêmio o Lobo Carneiro destacou o apoio de Barney Graham, do Vaccine Research Center do National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos, em suas pesquisas com o coronavírus. “Ele foi meu chefe quando fiz estágio de pesquisadora visitante. Eu recorri a ele, pois não obtive respostas da China. Ele mandou vetor de DNA, aí em março a gente conseguiu expressar a proteína spike. Graças também à Renata, que vinha ao laboratório trocar meio de cultivo durante o carnaval. Foi importante o apoio da Coppe aos estágios de pesquisadora visitante, quando ‘virei doutoranda’ de novo, trabalhando em bancada. O Barney é um grande especialista em patogênese viral. Talvez seja o cara que mais contribuiu para a vacina da Moderna”.
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A universidade como missão
Destacado pelo seu padrinho, o professor Marcelo Castier, da Texas A&M University, como sendo um engenheiro químico de perfil extremamente completo, o professor Frederico Tavares tornou o laboratório que coordena, o Atoms (acrônimo em inglês para termodinâmica aplicada e simulação molecular), uma referência internacional em Termodinâmica. Frederico trabalhou no pós-doutorado com Stanley Sandler e John Prausnitz, dois dos maiores nomes da Termodinâmica aplicada à Engenharia Química, na segunda metade do século XX.
Em seu pronunciamento o professor premiado, coordenador do Programa de Engenharia Química da Coppe, destacou a importância de colaborações internacionais para enriquecer as pesquisas e manter atualizado.
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encedora na categoria jovem, a professora Gabriela Ribeiro foi descrita pela sua colega de Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PEMM), professora Marysilvia Ferreira, como uma “nerd raiz”, “uma pessoa que quando precisa resolver um problema, ela senta e estuda até resolver”. “A Gabi é agitada, pró-solução. Acumula tarefas e resolve. Encontra soluções viáveis para os problemas, é assim em tudo que ela faz. Também luta para mudar as coisas que entende como erradas. Vai às ruas lutar por ensino público, gratuito e de qualidade. O nosso país precisa muito de pessoas assim”, elogiou Marysilvia.
“Antes de encarnar, acho que me deram a missão: vai para o PEMM. É uma missão de vida. Independente das escolhas que fizesse de carreira acho que iria parar no PEMM de alguma forma”, disse a professora Gabriela, que em seu pronunciamento ressaltou a dedicação de professores e funcionários em seu programa e emocionada falou sobre o seu comprometimento e dedicação à universidade. “Não tem fim de semana ou feriado para quem enxerga o trabalho como missão de vida”, enfatizou.
Gabriela fez um agradecimento especial ao professor a quem substituiu quando ingressou no Programa, o professor João Marcos Alcoforado. “João, nunca vou conseguir retribuir toda a generosidade e parceria que você teve comigo. Mas prometo retribuir ao mundo. Que a gente continue unido em prol de uma universidade melhor, de um mundo melhor”.
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A professora Márcia Dezotti, madrinha de João Paulo Bassin, a quem orientou no mestrado e no doutorado, não economizou elogios ao colega. “Seu trabalho em Delft (universidade holandesa onde fez doutorado-sanduíche) foi espetacular. Sabia tudo dos laboratórios, dominava todas as técnicas e era amigo de todos os técnicos. Tinha respeito pelo trabalho de todos. Seus trabalhos de orientação são impecáveis. Já escreveu 65 artigos, tem mais de 1.200 citações e tem apenas 38 anos. João é uma referência na área dos processos biológicos avançados. Suas características o tornam único na academia”.
“Não é fácil trabalhar nessa área em um país que acha que política ambiental é contrária ao crescimento econômico. Busquei recursos e tive que dividir os disponíveis de modo a contemplar as diversas teses. Mantive pé no chão sem alçar voos mais altos como gostaria. Sempre dividindo a docência com o trabalho burocrático. O pesquisador no Brasil precisa se desdobrar em vários: formar recursos humanos para a docência, pesquisa, empreendedorismo e inovação, e essas atividades burocráticas para manter nossos laboratórios não aparecem em nossos feitos”, criticou João Paulo Bassin.
Muito ligado à família e sua criação em Erechim (RS), João Paulo destacou a papel dos pais em sua formação. “Meu pai era comerciante, vendia bebidas e lanches em um lugar que no Rio chamariam de boteco, e minha mãe professora de ensino fundamental. Sempre admirei o espírito de luta de pessoas humildes e trabalhadoras. Eles se sacrificaram para que eu tivesse um ensino de qualidade”.
A humildade que admira João Paulo demonstrou ao defender a autoavaliação em detrimento das comparações. “É comum o uso de métricas para comparar pessoas. Na universidade, nas empresas, até nas famílias. Isso não é justo. As pessoas não são comparáveis, cada uma tem sua história de vida”, defendeu o professor do Programa de Engenharia Química.
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“Incansáveis na luta pela vida”
Professor Romildo encerrou a cerimônia com mensagens de reconhecimento e agradecimento ao corpo social da Coppe, à atuação de seus colegas de diretoria, e aos grupos de pesquisa que deram variadas e inovadoras respostas ao desafio imposto pela pandemia.
“Em tempo recorde, desenvolvemos na Coppe o Covidímetro, feito pelo pessoal do PESC; o ventilador de exceção; diversos aplicativos; tecidos antivirais; fármacos mais eficientes com nanopartículas; produção de faceshields e álcool 70, fundos de solidariedade que permitiram apoio ao hospital universitário e até outros campi”, exemplificou o diretor da Coppe
“Em 2021 precisaremos ainda mais da ciência, da união, do trabalho conjunto e solidariedade humana. Precisaremos ser tenazes na luta pela manutenção das políticas públicas de Saúde, de Educação e de Ciência, Tecnologia e Inovação. Em nome da diretoria da Coppe, gostaria de agradecer a todos os seus professores, alunos, funcionários e colaboradores que superaram muitas adversidades para manter a instituição ativa em 2020. Como já disse, na busca de soluções para enfrentar a pandemia, vocês foram incansáveis na luta pela vida”, afirmou o diretor da Coppe.
Durante o evento, a diretora adjunta de Gestão de Pessoas da Coppe, Vanda Borges, proferiu a palestra “Resiliência, Complexidade, ressignificação e acolhimento”. Segundo Vanda, “a vida foi seguindo e passamos a incorporar novos conhecimentos, a inserir novos hábitos e costumes. Passamos a usar máscaras, álcool em gel o tempo topo, adotamos o distanciamento social, conhecemos e usamos novas tecnologias para o trabalho e também para os nossos relacionamentos. Assim, ressignificamos a maneira de viver e conviver”.
Vanda citou ainda o poema “Desistir” de Cora Coralina, o qual justamente mostra que este verbo não deve ser levado a sério, porque “tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça”.
A cerimônia que emocionou o público foi encerrada com a apresentação do Coral da Coppe José Cristano. A entrega do Prêmio Coppe Mérito Acadêmico e a Cerimônia de Encerramento foram transmitidas pelo canal da Coppe no YouTube e continuam disponíveis.