Década de 1990 foi marcada pela solidificação da abrangência do PESC em todas as áreas da Ciência da Computação
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 24/11/2020
No terceiro dia da “Semana PESC 50 anos”, a professora Marta Mattoso foi a representante dos docentes que ingressaram na década de 1990 no Programa de Engenharia de Sistema e Computação da Coppe/UFRJ. Durante sua palestra, dia 11 de novembro, Marta disse ter sido um privilégio entrar neste período, que foi de muita contratação (ingresso de 14 docentes, incluindo ela), formando um time de excelência. Na época, se juntou aos professores de grandes titularidades de excelência nacional e internacional que já estavam no PESC, desde os anos de 1970, e aos que entraram na década de 1980, incluindo muitos recém-doutores, que tinham muito gás e muita garra para trabalhar. Quem ingressou neste período, encontrou um pioneirismo com muita qualidade científica. De acordo com Marta, o que se solidificou na década de 1990 e que permanece até hoje é a abrangência em todas as áreas da Ciência da Computação, que é uma característica ímpar do programa. Confira o evento na íntegra: Semana PESC 50 anos – dia 11/11
Promovida pela Coppe, a Semana PESC 50 anos foi realizada, entre 9 e 13 de novembro, em comemoração ao cinquentenário do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da instituição, criado em 1970.
Marta, que é da área de Engenharia de Dados e Conhecimento do PESC, avaliou durante a palestra, intitulada “Impressões de década de 90”, a orientação a objetos como uma importante mudança de paradigma ocorrida nesta década, não só em sua área, mas em outras como a de Programação e Desenvolvimento de Softwares. De acordo com a professora, a própria arquitetura de computadores acabou recebendo esta interferência. O desenvolvimento desta tecnologia acabou, de certa forma, viabilizando ou fomentando a implementação de diversos algoritmos com base em grafos, em larga escala, com fragmentação e o próprio XML. “Passamos por várias transições neste período e com resultados bastantes interessantes. E a outra grande mudança foi o Processamento Distribuído e Paralelo. Não que tenha sido novidade em 90, mas a grande a mudança que aconteceu ali foi a de supercomputadores para computadores razoavelmente mais acessíveis”, explica Marta.
A professora disse que outro grande destaque do período ocorreu logo após o retorno do, então aluno, Geraldo Xexéo, de seu doutorado sanduíche no Cern, trazendo para a Coppe a novidade de página em web, a implantando no PESC. Marta lembrou que todos estavam empolgados e motivados, não só com as conquistas dele, mas do programa como um todo porque foi uma mudança que deixou todos já posicionados dentro do novo contexto, envolvendo html.
As pesquisas na área de Redes também foram destacadas por Marta, por unir professores do programa, como Edmundo, Rosa e Daniel Ratton, que desenvolveram uma tecnologia que serviu de base para toda a gravação e ambientação de ensino à distância em nível de graduação da Ciência da Computação junto ao Cederj. A professora ressaltou que embora o PESC não tenham sido o único e nem o criador da metodologia, a tecnologia desenvolvida no programa foi fundamental, e hoje é um grande caso de sucesso. “É um prazer enorme ver esses vídeos dando uma capilaridade ao acesso para o conhecimento de todas áreas da Ciência da Computação, com professores titulares e diversos notáveis da área, com grande disseminação”, comemora Marta.
O início do trabalho liderado pelo professor Jano de Souza, envolvendo Gestão de Dados do governo, foi outro destaque da década de 1900 mencionada por Marta, por envolver transferência de tecnologia e conhecimento para sociedade. Mais especificamente para o próprio governo que sofre com tanta questão de dados com grande volume e diversidade, e um panorama que muda bastante. De acordo com a professora é um trabalho de sucesso que gerou, inclusive a criação de startups e parcerias com empresas.
Durante sua palestra, Marta ainda destacou um artigo de sua autoria junto com os professores Cláudia Werner e Guilherme Travassos e outros pesquisadores, como exemplo concreto de diversidade e de trabalho em colaboração, em parceria. O artigo aborda um projeto coordenado pelos três professores junto a Rede Galileu de pesquisa, no Cenpes, nos anos 2.000, que considera como uma colaboração muito rica, envolvendo problemas reais no auge da descoberta do pré-sal. O grupo atuou com diversos desafios e, de acordo com Marta, este trabalho deslanchou na pesquisa de muitas pessoas até os dias de hoje.
Antes de Marta fazer sua apresentação, o professor do PESC, Geraldo Xexéo, moderador da palestra, destacou que a professora participa ativamente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), é membro de vários conselhos e comitês, tendo estabelecido o workshop anual brasileiro voltado para E-Science, que atualmente é conhecido como BRESci. Disse também que ela possui vários prêmios de melhor artigo e melhor tese em congressos. De acordo com Xexéo, sua enorme capacidade de trabalho é mostrada pelas estatísticas, mas o que mais espanta atualmente é a capacidade de formação de alunos, um impacto que vai além dos artigos publicados. O professor considera como incrível o trabalho de formação de Marta e seu papel importantíssimo na evolução desse grupo de E-Science que ela hoje lidera. São profissionais que são reflexos e legados de seu trabalho. “Ela e esses filhos acadêmicos são os sinais da qualidade do PESC”, afirmou Xexéu.
A criação de empresa de referência a partir de pesquisas no PESC
Representando os ex-alunos do programa que fundaram uma empresa de sucesso, Mario Veiga Pereira, que criou a PSR em 1987, iniciou sua apresentação contando a história do algoritmo que criou para ajudar na tomada de decisão sobre a fonte de Energia a ser utilizada. Ele calcula se, em determinados momentos, é melhor estocar água dos reservatórios para um futuro em que possa ter escassez, e usar termoelétrica, ou fazer ao contrário. Como as previsões chegam a ser para até cinco anos, usar as metodologias tradicionais, como as “árvores de decisões”, fica impossível, já que envolve crescentes números de decisões e estágios.
Mário explica que a solução mais utilizada em algumas situações é a de Programação Dinâmica Estocástica (SDP), mas que não daria certo neste caso do sistema elétrico porque as previsões podem envolver combinações de 100 reservatórios ao mesmo tempo, fazendo as possibilidades chegarem a casa dos trilhões. Foi justamente esse problema, a motivação para que Mário, então aluno da Coppe, junto com pesquisadores do Cepel, se empenhassem no desenvolvimento de uma solução, que culminou na criação do algoritmo SDDP – Stochastic Dual Dynamic Programming, com a participação de duas alunas também do PESC, a Leontina Pinto e a Nora Campodónico. De acordo com Mário, o algoritmo funcionou bem na prática e despertou interesse acadêmico e industrial, sendo utilizado por instituições de vários países, incluindo o Banco Mundial. Na academia, o paper original teve 1,3 mil citações, o conjunto de artigos relacionados tem quase 5 mil citações, e até hoje tem muitas sessões dedicadas ao SDDP, a exemplo do congresso internacional de Operações Estocásticas, de 2019, no qual 10% das apresentações eram sobre este algoritmo.
Ainda durante sua palestra intitulada “30 anos de Stochastic Dual Dynamic Programming (SDDP)”, Mário disse que o PESC é uma referência em sua vida e que muitos alunos formados pelo programa estão hoje na PSR. De acordo com ele, o caso do algoritmo SDDP ilustra os benefícios de parceria entre a universidade e a indústria. “Nós da PSR, que fomos alunos do PESC somos extremamente gratos aos professores e aos colegas do programa, e achamos que os benefícios desta parceria só irão aumentar. Não só para nós da PSR, mas pata todo mundo porque todos estão vendo que o artigo mais valioso para as empresas é capacidade analítica e a inovação das pessoas”, concluiu.
A palestra de Mário Pereira foi moderada pelos professores Rosa Leão e Edmundo de Souza e Silva. Ao relatar a trajetória do ex-aluno de doutorado, Rosa destacou suas inúmeras premiações, incluindo a Medalha Presidencial do Rio branco por sua contribuição ao setor elétrico brasileiro, e a medalha de Mérito Científico. Mencionou também sua participação em renomados grupos de cientistas, a exemplo do IEEE, da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Academia Nacional de Engenharia (ANE), além de ser autor e coautor de quatro livros, e cerca de 200 artigos publicados em periódicos internacionais, entre outras atividades.
O professor Edmundo declarou que se pudesse resumir o palestrante em uma única frase diria que o Mário é a pessoa mais inteligente que já conheceu e é um amor de pessoa, unindo essas duas características de forma fantástica. Destacou que a PSR, por ele fundada, é uma empresa modelo, e que o ex-aluno de várias contribuições para o Brasil, incluindo o papel de principal conselheiro presidencial durante a crise energética de 2001 e o desenho de novas regras do mercado de Eletricidade. Além disso, de acordo com Edmundo, foi o principal formulador de leilões para contração de Energia no país, e tem uma longa lista de consultorias internacionais, além de outras contribuições pelo mundo na área de Energia. “A sua empresa e o que Mário contribuiu são exemplos de que podemos fazer tecnologias de ponta usadas no país inteiro. Orientado pelo professor Maculan, o Mário é um orgulho que o PESC tem. Um orgulho para todos nós”, concluiu Edmundo.
Confira a cobertura dos outros quatro dias da Semana PESC 50 anos:
2º dia – PESC nos anos 1980: primeiro supercomputador brasileiro e início da parceria com o Cern
4º dia – PESC nos 2000: “sulear” o olhar da pós-graduação
5º dia – Semana PESC: encerramento é marcado por destaques da última década e retrospectiva