USIS abre inscrições para projetos socialmente inovadores

Planeta COPPE / Engenharia de Produção / Notícias

Data: 09/03/2018

A USIS aproxima o mundo acadêmico de coletivos que proponham projetos socialmente inovadores

Estão abertas as inscrições, até dia 11 de março, para projetos socialmente inovadores. Unidade de Suporte à Inovação Social (USIS) da UFRJ está oferecendo 12 vagas a candidatos de quaisquer grupos ou coletivos que proponham uma atividade de inovação social. Sediada na Coppe/UFRJ, a USIS oferece mentoria de professores e pesquisadores aos candidatos.

Dentre as áreas sugeridas para inovação social estão: novas formas de trocas de bens e serviços; combate ao desperdício de alimentos como oportunidade de negócios; movimentos LGBTT+; reinvenção dos espaços urbanos; Inovação social digital; defesa civil (prevenção ou minimização de desastres); empreendedorismo e negócios de impacto social; geração de emprego e renda em localidades desfavorecidas e inovações sociais em saúde.

As propostas serão selecionadas por um comitê formado por professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes da UFRJ, segundo os critérios de clareza na apresentação da iniciativa e o potencial de desenvolvimento da mesma.

Professora Carla Cipolla, coordenadora da Unidade de Suporte à Inovação Social

Lançada na Coppe, em 27 de abril de 2017, durante o workshop “Studio de Inovação Social”, a USIS tem como objetivo aproximar do universo acadêmico inovadores de diversas áreas interessados em promover a transformação social. Sob a coordenação da professora Carla Cipolla, do Programa de Engenharia de Produção (PEP) da Coppe, o evento reuniu no primeiro ciclo cerca de 30 pesquisadores e profissionais. Embora fisicamente sediada na Coppe (na sala F-109, no Centro de Tecnologia), é interdisciplinar e pluri-institucional.

Segundo Cipolla, com essa iniciativa, a universidade se abre e se oferece para servir à sociedade naquilo que ela deseja fazer, colocando sua expertise (em design thinking, marketing, administração, engenharia de produção, dentre outras áreas do conhecimento) a serviço das pessoas que estão dispostas a inovar em benefício dos seus semelhantes. “Não necessariamente produto ou serviço, mas algo que seja capaz de promover transformação social. Trata-se de outra modalidade da universidade: se colocar como um ator que interage com pessoas comuns. Quem tem ideias inovadoras não necessariamente acredita que conseguirá desenvolvê-las ou creem ter tempo para a empreitada. É um desafio achar essas pessoas e estimulá-las, fazê-las acreditar em suas ideias”, avalia a professora.

Combatendo preconceitos e promovendo inclusão

Larissa Munck, coordenadora do “Agora Juntas”

No início de 2017 foram selecionados 12 projetos socialmente inovadores incentivados pela USIS. São projetos com objetivos diversos, como difusão da agricultura orgânica em meio urbano; aproximação de grupos feministas; inclusão social de pessoas transgêneras; capacitação de empreendedores nas periferias; educação financeira e acesso a crédito para microempresários residentes em comunidades; criação de laços de empatia entre imigrantes e inclusão social de pessoas com autismo.

Um dos projetos selecionados é a rede “Agora Juntas”, cujo objetivo é conectar coletivos feministas e permitir que mulheres partilhem experiências comuns, não apenas virtualmente.

“Nós nos encontramos nas ruas, nas manifestações. A gente se articula muito pela internet, mas não consegue ‘linkar’ isso com um espaço físico onde a gente se sinta segura. É importante haver uma conexão entre os coletivos feministas e as feministas independentes que sintam necessidade de se encontrarem e trocarem idéias e experiências. Buscamos um espaço físico privado para isso”, afirmou Larissa Munck, formada em Comunicação Social pela UFRJ e uma das coordenadoras da rede.

O local procurado já foi escolhido. O “Agora Juntas”, presente tanto no Facebook quanto no Instagram, encontrou o seu espaço físico no Instituto Rose Marie Muraro, na Glória. “Partimos do feminismo interseccional. Acreditamos que o feminismo está atrelado à luta contra a desigualdade social, contra o racismo, a homofobia, a transfobia. Entendemos que não somos um grupo destacado do resto”, explica Larissa.

Também atento à exclusão social relativa a gênero e orientação sexual, o projeto Transffforma visa inserir na sociedade o público transgênero, por meio da música. A iniciativa do aluno da Escola de Música da UFRJ, Eduardo Burgos, é prover educação musical, inicialmente com aulas de canto coral, apoio técnico e pedagógico,com assessoria de pianista e regente. “As pessoas transgeneres, que são segregadas na sociedade, sofrem violência. Quem convive de perto sabe que sua situação não é fácil. A ideia é inseri-las na sociedade e levar apresentações ao público em geral”, esclarece Eduardo, que empreende o projeto com suas colegas Vivian Fróes e Geisy Carvalho.

“A maior parte das pessoas não acha que é capaz o suficiente para perseguir seus sonhos”, lamenta Feijah´N

Outro empreendimento inovador é o Pro-Work, desenvolvido no Pólo Socio-Cultural da Cidade de Deus, pelo músico e produtor Robson Feijah´N. O foco do seu projeto é utilizar o espaço de coworking, dentro do Pólo, para trabalhar capacitação, empoderamento e gestão.

“A maior parte das pessoas, não só da Cidade de Deus, não acha que é capaz o suficiente para perseguir seus sonhos. Toda pessoa que deseja abrir o seu negócio precisa de planejamento estratégico. Lá fazemos análise FOFA (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), Balanced Scorecard – métodos de análise de cenário utilizados em Administração – para que a pessoa possa ter uma análise crítica de seu trabalho. É um momento de acolhimento, de análise da pessoa e do seu produto cultural, e depois capacitando, sendo parceiro, fazendo captação de recursos. Tudo que busco fazer com as pessoas do meu grupo é aplicar planejamento estratégico. É simples”, relata o soulman.

Além da professora Carla Cipolla, a USIS contou neste primeiro ciclo com a participação dos professores da Coppe Roberto Bartholo, Francisco Duarte e Edison Renato (todos do PEP); Rita Afonso e Paulo César Pereira (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis – FACC/UFRJ); Ivan Bursztyn, Claudia Mesquita e Ceci Figueiredo (Instituto de Nutrição Josué de Castro – INJC/UFRJ); e Eduardo Raupp, do Instituto Coppead. A Unidade conta ainda com Iris Guardatti e Paulo de Oliveira, da Agência UFRJ de Inovação.

Apoio à diversidade

Professora Rita Afonso orienta os grupos Mercado Vivo e LGBTT+

Inserido na pauta da diversidade de orientações sexuais e identidades de gênero há o LGBTT+ Movimento, grupo orientado pela professora Rita Afonso, colaboradora do Programa de Engenharia de Produção da Coppe. Trata-se de uma rede de afeto para acolher LGBTT´s imigrantes e deslocados (pessoas que saem de outros estados rumo ao Rio de Janeiro em busca de um maior respeito aos seus direitos fundamentais).

“O grupo é formado por meninas lésbicas, que pensaram o seguinte. O Brasil tem recebido muitos refugiados, muitos são LGBTT, ainda que não identifiquem essa condição como causa do pedido de asilo. Chegam aqui e não sabem quais são os lugares de luta, quais são os lugares de afeto, quais são os lugares seguros na cidade para que possam se deslocar em segurança, e estar menos expostas à violência, física ou simbólica”, explica Rita. O LGBTT+ conta com apoio da Cáritas, da Kinura, e da Casa de Rui Barbosa.

Outro projeto que recebe a mentoria da professora Rita Afonso é o Mercado Vivo, um mercado de troca, sem dinheiro, instalação se propõe a educar para o consumo consciente. O grupo atua no bloco A do Centro de Tecnologia, oferecendo brechó, artesanato, cosméticos. Segundo Rita, quem se interessar pelos artigos oferecidos deve levar algo para efetuar uma troca. “Caso não tenha um bem físico, pode trocar conhecimento, ou fazer um happening com poesia. Isso dá direito a trocar por uma peça de roupa. Há ainda uma artesã que te ensina a fazer artesanato com produtos que eles oferecem”, informa a professora. De acordo com a mentora da iniciativa, o foco do Mercado é ampliar sua atuação pela UFRJ. “Neste primeiro ano vamos ampliar para onde há cursos de ciências humanas, como o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS)”, complementa.

Por em prática ideias socialmente inovadoras que nascem nas universidades

Até o momento, existem oito USIS implantadas na América do Sul, sendo duas em cada país: Brasil, Chile, Colômbia e Panamá. Todas estão sediadas em universidades. No Brasil, além da Coppe, a outra Unidade de Inovação Social fica na Unirio. A unidade da Coppe foi a primeira a ser apresentada para suas congêneres.

O conceito da USIS surgiu na Glasgow Caledonian University (Escócia), com o professor Mark Anderson, que tem se dedicado a ajudar no estabelecimento de centros de inovação social na África, Ásia e América Latina.

O objetivo é disponibilizar o conhecimento gerado na universidade pública que é voltado para a inovação social. “A proposta é impulsionar a mudança social por meio de um processo de aprendizado mútuo, benéfico tanto para os participantes externos quanto para a universidade. É colocar em prática ideias socialmente inovadoras”, explica Cipolla.

Na Coppe, a sala que sedia a USIS funciona como um multilab. São cinco espaços que congregam diferentes laboratórios do Programa da Coppe e da Escola Politécnica. O uso é compartilhado, saindo da ideia de que cada professor deve ter o seu próprio laboratório. Espaço para workshops, mentoring, impressão 2D e 3D”, descreve.

A USIS é oficialmente reconhecida pela UFRJ como um projeto de extensão, interdisciplinar e interinstitucional. Desde 2013, com a resolução do Conselho de Ensino de Graduação, (CEG 02/2013), tornou-se obrigatório que os alunos de graduação da UFRJ façam créditos em atividades de extensão. A medida foi implementada em 2017.

“Agora, todos os cursos da UFRJ têm que dedicar 10% da carga horária do aluno a atividades de extensão. A participação na USIS garante créditos para os estudantes e carga de trabalho aos professores. Isso permite a sustentabilidade do projeto em longo prazo”, explica Carla Cipolla.

Na avaliação da professora Rita Afonso, “no futuro, ao olharmos os alunos que estamos formando, veremos profissionais muito mais conscientes. Muitos de nossos alunos vêm da elite brasileira. Quando o estudante passa por um contato longo e obrigatório com a comunidade que está no entorno de sua instituição, é claro que isso contribuirá para ampliar sua visão de mundo e, consequentemente, melhorar o país”, afirma Rita, acrescentando que a obrigatoriedade também será positiva para os professores.

“A USIS promove uma conexão de saberes. Ela tem uma grande importância para a UFRJ, pois está fazendo a universidade se movimentar no sentido das várias atuações políticas de suas minorias. É função da universidade promover essa aproximação. Isso é um baita aprendizado para a gente. Estamos em contato com a galera que está agitando a cidade e isso é maravilhoso. Nos tira do formato”, ressalta Rita Afonso.

Na avaliação da professora Carla Cipolla, “a universidade precisa dessa seiva vital. Ela pode conectar essa criatividade com conhecimentos estruturados. Sair dos seus muros e abraçar a cidade. O empoderamento da extensão pode nos ajudar (professores) a realizar esse sonho. Antecipando o futuro não apenas na inovação tecnológica, mas na inovação social também”.