Ciro Gomes propõe medidas para retomada do desenvolvimento nacional

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Data: 09/05/2017

Ciro Gomes entre os diretores da Coppe Edson Watanabe e Luiz Pinguelli Rosa

Na primeira edição do “Ciclo Brasil e suas perspectivas”, realizada nesta segunda-feira, 8 de maio, na Coppe/UFRJ, o ex-ministro Ciro Gomes criticou a política de juros altos, a desindustrialização do país, e propôs uma série de medidas para que o Brasil reencontre o caminho do desenvolvimento econômico. Mais de 300 pessoas lotaram o auditório da instituição para assistir a palestra do ex- ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e da Integração Nacional no governo Lula. Ao final do evento, o palestrante visitou o Maglev-Cobra, o trem de levitação magnética da Coppe, que há um ano vem sendo testado com sucesso na Cidade Universitária.

Em sua palestra, Ciro fez um balanço da política e da economia, apontou erros históricos e medidas para sair da crise que, em sua avaliação, podem ser atingidas em questão de meses. A política de juros, a qual qualificou de inexplicável, foi um dos alvos das críticas do ex-ministro da Fazenda. “Qual a explicação para a taxa de juros ser 11,25% se a inflação projetada é 3,5%? É uma política brutal de transferência de renda para o baronato dos detentores de títulos da dívida pública. Poderíamos ter uma taxa de 6% ao ano, que ela estaria acima da média mundial, e seria mais de 2% acima da inflação projetada. Ela seria atrativa para os compradores dos títulos da dívida pública e permitiria uma folga fiscal para o país se desenvolver”, sugeriu.

Ciro Gomes levitou no Maglev-Cobra da Coppe, após sua palestra

Na avaliação de Ciro Gomes, há três razões fundamentais que impedem o crescimento econômico do país. A primeira é o passivo da iniciativa privada. “As 300 maiores empresas de capital aberto do país não conseguiram gerar caixa suficiente para pagar o último trimestre de dívida vencida. A capacidade de investimento privado esgotou. A segunda é o colapso das finanças públicas brasileiras. A União disponibilizou para investimentos, em seu orçamento para 2017, o equivalente a 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto), e eu não acredito que cumpra. O governo Lula investia 1,7% e o governo Geisel, 2,5%. Ao passo que gastaremos esse ano, 11% do PIB para pagar juros da dívida”, informou o ex-ministro.

O terceiro motivo apontado por Ciro é o desequilíbrio estrutural das contas externas do país. “Temos esse desequilíbrio porque estamos nos desindustrializando. A indústria voltou a representar para o PIB o que ela representava em 1910. Tivemos, em nosso último ano de crescimento econômico, 124 bilhões de dólares em déficit no comércio de produtos industrializados”, lamentou.

Para fazer frente a esses três entraves ao crescimento, Ciro propôs um igual número de medidas: “elevar a formação bruta de capital; realizar uma coordenação estratégica entre o governo empoderado democraticamente e o empresariado liberto da esquizofrenia rentista; e investir em gente, aumentando o gasto per capita em educação”.

“Governo impõe ao país um thatcherismo mofado”

Ciro foi enfático em seu repúdio a assimilação, sobretudo pelo governo do atual presidente Michel Temer, da ideologia liberal. Em sua opinião, as medidas apresentadas até o momento por Temer impõem ao país um “thatcherismo mofado, sem o charme, a legitimidade e as razões, que a Margareth Thatcher tinha”.

“Um país com 8,4 mil km² de costa abriu mão de sua marinha mercante. Nossos produtos agora são fretados em embarcações estrangeiras, pagando em dólar. Destruímos também o setor de seguros e resseguros. Temos um déficit de 124 bilhões de dólares em produtos manufaturados e vamos somar a este déficit o desequilíbrio em outras rubricas. É uma prostração ideológica ao mito neoliberal. A mistificação é mistura de ignorância e desonestidade, nessa associação de plutocratas com seus órgãos de mídia”, critica Ciro Gomes.

De acordo com o ex-ministro, a espontaneidade das forças de mercado nunca resolveu as crises em lugar algum, e citou o exemplo dos Estados Unidos. “A América seria o que é sem o New Deal, uma leitura pragmática de Keynes? Sem as compras governamentais, sem trilhões de dólares investidos em pesquisa, a pretexto da defesa militar ? Temos que eleger alguém para resolver as coisas e esse alguém é o Estado, que não precisa ser corrupto, balofo, cheio de maus exemplos. Uma economia política em que o Estado seja coordenador dessa reversão de expectativas, em conjunto com a iniciativa privada”, avalia.

Os alertas de Ciro

Durante sua palestra, Ciro Gomes fez um apanhado da história política recente, com críticas aos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff. Segundo Ciro, o Brasil saiu da irrelevância econômica para tornar-se a 15ª maior economia industrial, no curso de três décadas, mas o modelo nacional-desenvolvimentista esgotou-se na década de 1980.

Segundo Ciro, Fernando Henrique Cardoso surfou a onda do consumo, gerada com o fim da inflação alta, e com a valorização do real. “Quando acabou o ciclo felicitante do consumo de Fernando Henrique Cardoso, o país quebrou e desvalorizou 44% o câmbio em 60 dias. Isso se transferiu e criou uma miragem de inflação. Fernando Henrique meteu os juros lá em cima, criou um monte de desemprego, uma fraude eleitoral. E o que fizeram o Lula e o PT na época? Montaram o movimento ‘Fora FHC’, apresentaram um pedido de impeachment ao então presidente da Câmara, Michel Temer. Me dá raiva dessas coisas no Brasil. Será que só eu tenho memória? Eu dizia ao Lula: ‘você está fazendo a mesma cagada que fez quando foi contra o Plano Real, quando se negou a fazer parte do Colégio Eleitoral com Tancredo Neves, quando se negou a assinar a Constituinte. E agora está preparando o caminho para um de nós ser derrubado’. Remédio para governo ruim não é golpe, é eleição”, relembrou Ciro Gomes.

Na avaliação de Ciro, Lula mostrou, no início de seu governo, que com ele a ortodoxia seria mais eficaz, pois ele anestesiaria as instituições representativas como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). “Com isso, o dólar que chegou a R$ 9,20 durante a campanha eleitoral, caiu para R$ 1,75 . A vida é indexada ao dólar. Trigo, óleo diesel, química final, insumos médicos, tudo é cotado a dólar. Além disso, o Brasil experimentou uma inédita  e não replicável explosão do valor de produtos de baixo valor agregado, como o petróleo e o minério de ferro”.

Para o ex-ministro, a história se repetiu no governo Dilma, porém com final diferente. “Recessão econômica, remédio a la Armínio Fraga, juros lá em cima, desemprego, decepção popular e o pedido de impeachment que dessa vez não foi recebido pelo Michel Temer, que era subornado ou subordinado ao FHC. As duas coisas mesmo. Acham que eu exagero, mas essas pessoas são minhas conhecidas de longa data. Michel Temer é chefe de quadrilha. Eu chamei Eduardo Cunha de ladrão, o meu irmão o chamou de achacador. Dilma preferiu conciliar com ele. Olha o que aconteceu porque não quiseram nos ouvir”, enfatizou.

Crescimento na coleira

Ao opinar sobre as reformas que têm sido levadas a cabo pelo governo Temer, Ciro alertou que a reforma trabalhista por ser infraconstitucional, pode ser revertida em 2019, mas a reforma previdenciária deve ser barrada o quanto antes, pois será mais difícil obter os 3/5 necessários à aprovação de uma emenda constitucional. Em relação à PEC do Teto dos Gastos Públicos, que instituiu o Novo Regime Fiscal (Emenda Constitucional nº 95/2016), o ex-ministro fez uma analogia e a retratou como “uma coleira de aço em um filhote de cachorro. Ao crescer, ele será estrangulado. Em três ou quatro anos vamos ver a impossibilidade técnica desse teto de gastos”.

“Quando eu fui ministro da Fazenda, no governo Itamar Franco, a carga tributária brasileira chegava a 27% do PIB e o nosso endividamento a 38%. A brincadeira feita por Fernando Henrique (e mantida por Lula) elevou a carga a 36,5% e o endividamento a 78%. Ninguém foi mais ruinoso do ponto de vista fiscal do que essa gente, que agora quer dar lição de responsabilidade”, criticou Ciro Gomes.

Ciro criticou ainda o moralismo que em sua opinião estaria sendo usado para destruir parte importante da indústria nacional. “Para retomar as obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), o governo fez uma carta-convite a 17 empresas de engenharia. Todas estrangeiras. Eu pesquisei e apurei que todas as 17 respondem a processos por corrupção em seus países de origem. E nós, por moralismo, estamos destruindo as empresas nacionais. Perdemos 700 mil empregos no setor. As pessoas são corruptas, não as empresas”, informou o ex-ministro.

“O senhor Michel Temer convidou as Forças Armadas americanas para fazerem exercícios militares conjuntos na Amazônia, na fronteira com a Venezuela. Pode não ser nada, pode ser apenas uma sabujice. Mas isso viola uma tradição de 400 anos. O Barão do Rio Branco deve estar rolando no túmulo. Qual a razão destes exercícios? Canalha, é isso que eu penso dele. Eu os chamo de canalhas, porque a política sem calor é jogo de linguagem da elite criptoreacionária”, finalizou Ciro Gomes.

“Ciclo Brasil e suas perspectivas” é aberto ao público e tem como objetivo promover debates com personalidades, intelectuais, jornalistas e líderes sociais sobre a crise do país e maneiras de superá-la.

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