Coppe e Tsinghua discutem formas de levar a inovação à sociedade
Planeta COPPE / Notícias
Data: 13/11/2015
O Centro China-Brasil, co-dirigido pela Coppe/UFRJ e Universidade de Tsinghua – promoveu, dia 3 de novembro, o Seminário de Transferência de Tecnologia. No evento, realizado na sede da Embrapa, em Brasília, pesquisadores e representantes de governo apresentaram e debateram as experiências chinesa e brasileira. Também sugeriram propostas para que o Brasil consiga superar entraves e obstáculos que causam um indesejável afastamento entre o meio acadêmico e o setor empresarial.
O planejamento de longo prazo, inserido na política de Estado, e a disponibilidade de recursos financeiros explicam o maior progresso alcançado pelos chineses na produção científica. São, sobretudo, esses dois fatores que permitem às autoridades chinesas – representadas pelo vice-secretário de Ciência e Tecnologia de Pequim, Jianmin Wu – estimarem o ano de 2050, como data para que seu país se torne líder mundial em ciência e tecnologia.
Fundamental ao estabelecimento de parcerias tanto com instituições públicas como privadas, a Fundação Coppetec foi apresentada aos pesquisadores chineses pelo diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe e diretor superintendente da fundação, professor Fernando Rochinha. Pioneira no país, a fundação gere os contratos e convênios da Coppe e da universidade com empresas e instituições públicas e privadas. Segundo o professor, em 2014, os recursos geridos pela Fundação chegaram a 300 milhões de reais.
“Somos uma universidade pública que faz parte de um sistema regido por um arcabouço normativo muito complexo e a forma que temos para gerir isso é a Fundação Coppetec, que confere celeridade ao contato, à interface. Os processos não se desenvolveriam sem essa agilidade. A Coppe colabora com vários setores empresariais, sobretudo de energia, via Coppetec”, avaliou Rochinha.
Experiência brasileira
O professor da Coppe, José Carlos Pinto, diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, apresentou a experiência de integração entre universidade e o meio empresarial liderada pela Coppe, que é um modelo de sucesso no Brasil. Atualmente, são 53 empresas instaladas no Parque, 12 delas de grande porte, como as multinacionais Schlumberger, General Electric, Ambev e L´Oreal, empregando mais de 2000 pessoas. Mão de obra altamente qualificada, em que mais de 30% dos funcionários são pós-graduados.
Segundo José Carlos Pinto, no total, mais de 1 bilhão de reais foram investidos no local, sendo 63% dos recursos de origem privada, e após uma concentração inicial de atividades nos setores de óleo e gás, o Parque tem diversificado seu leque de atuação, não apenas na atração de grandes empresas de segmentos variados, como no apoio ao empreendedorismo.
“Apoiar as pequenas e médias empresas de alta tecnologia é uma prioridade. O período de incubação de empresas na Coppe é de cinco anos, mas muitas delas não chegam ao fim desse período preparadas para os custos elevados de atuação fora do ambiente universitário. Daí a necessidade de um processo de pós-incubação”, explica José Carlos Pinto, que acrescenta que o processo também é oferecido a empresas de outras incubadoras, e mesmo de outros países, as quais recebem um apoio para se instalarem no país, chamado de soft landing.
O bem sucedido modelo chinês
Da mesma forma que o professor José Carlos Pinto apresentou à plateia as informações mais relevantes acerca do Parque Tecnológico da UFRJ, coube ao professor Dehua Liu, diretor da Universidade de Tsinghua, apresentar a experiência do Tsinghua University Science Park (TUS Park).
O parque tecnológico mantido pela Universidade de Tsinghua é o primeiro do gênero construído na China, e, atualmente, é o maior do mundo. Instalado em uma área de 770 mil m², o TUS Park reúne 200 empresas (incluindo gigantes, como Google, MSN e Toyota) que empregam mais de 10 mil pessoas e administram 8 bilhões de dólares em ativos.
O entorno do parque congrega 27 universidades, 62 laboratórios nacionais e 20 mil empresas. De acordo com o professor Dehua Liu, diretor da Universidade de Tsinghua, o TUS Park provê um ambiente especial para facilitar a realização de negócios e melhorar a vida das empresas alocadas no parque, e tem como objetivo se tornar um modelo global de inovação tecnológica.
“O TUS Park se apoia em quatro elementos-chave: localização, recursos, serviços e inquilinos (empresas instaladas), sendo os recursos financeiros o fator número um para o sucesso de qualquer empreendimento tecnológico”, explicou professor Liu, que acredita que o futuro do parque esteja na sua internacionalização, já projetando incubadoras nos Estados Unidos, Rússia, Hong Kong, Reino Unido e Israel, e o estabelecimento de parceria no Brasil.
De acordo com Jianmin Wu, vice-secretário de Ciência e Tecnologia de Pequim, a orientação do governo é consolidar os negócios inovadores e ampliar a capacidade de universidades e institutos de pesquisa em induzir desenvolvimento socioeconômico. Atualmente, a China sedia 150 incubadoras de tecnologia, que abrigam 9 mil empresas e geram 180 mil empregos.
“O governo chinês está ajustando sua política para otimizar o processo de inovação. Isso será feito em três etapas: a constituição de um sistema rígido de proteção intelectual; o rompimento do monopólio industrial e da segmentação do mercado de inovação; a reforma do modelo de comércio para que a inovação tecnológica se difunda o mais rápido possível”, relatou Wu.
Na avaliação feita pelo governo do presidente Xi Jinping, até 2050, a China será a nação mais avançada do mundo em ciência e tecnologia. Para isso, o país pretende montar um programa de financiamento tecnológico centralizado em âmbito nacional; fornecer subsídios e incentivos fiscais a empresas inovadoras que precisam importar equipamentos caros; e aumentar a participação dos empresários nas decisões nacionais sobre inovação.
Burocracia brasileira
O diretor de Orçamento e Controle da Coppe, Fernando Peregrino, lançou uma reflexão à plateia: por que o Brasil é o 13º país do mundo em publicações científicas e é considerado apenas o 61º em inovação? Segundo Peregrino, o Brasil hoje importa quatro bilhões de dólares a mais do que exporta em conhecimento, causando desequilíbrio na balança comercial, justo onde há mais valor agregado.
“Nosso sistema o difere de outros países. A inovação predomina em universidades e centros de pesquisa estatais. Há baixa participação do setor privado. A inovação tecnológica é uma atividade de risco, e de longo prazo. A participação das empresas costuma ocorrer na fase em que há menos risco”, explica o diretor.
Peregrino discorreu também a respeito das leis federais que versam, direta ou indiretamente, sobre o tema, como a lei 8010/90 que isenta de imposto de importação insumos para pesquisa científica; a lei 9.637/98, que cria as organizações sociais e os contratos de gestão; a lei 10.973/04 que incentiva as parcerias público-privadas; e a lei 11.196/05 que possibilita a dedução de imposto para investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
O diretor aproveitou a presença na plateia do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) para destacar a importância do projeto de lei (PL) 2177 e do projeto de lei complementar (PLC) 77, os quais criam o Código de Ciência, Tecnologia e Inovação, em sua opinião, “a mais expressiva conquista da década”. O Código permitiria a simplificação da gestão orçamentária; apoio a parques tecnológicos e núcleos de inovação tecnológica (NIT´s); dispensa da exigibilidade de licitação de micro, pequenas e médias empresas tecnológicas; facilitação de visto para pesquisadores estrangeiros; isenção de imposto para bolsas de pesquisa; o reconhecimento do capital intelectual como bem intangível passível de ser negociado; e a autorização ao Poder Público para participar de empresas inovadoras.
Peregrino listou ainda uma série de obstáculos à inovação que persistem no Brasil: o excesso de leis (segundo o diretor, 75 mil leis federais e estaduais foram editadas, de 2000 a 2010, no país); a desobediência à hierarquia das leis; a burocracia para a criação de empresas (a legislação brasileira exige 12 procedimentos para abertura de uma empresa, ao passo de que Cingapura exige três e a Nova Zelândia, apenas um procedimento).
“É preciso substituir o modelo de avaliação burocrático pela avaliação de resultados; substituir o controle prévio pela fiscalização e punição da conduta que esteja em desconformidade com as normas; eliminar formalidades e exigências cujos custos sejam superiores aos riscos de suas transgressões”, propõe Peregrino.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, compareceu ao seminário e defendeu uma reforma no ensino superior, que o despartidarize e promova o mérito, e elencou cinco importantes diferenças estruturais entre o Brasil e a China.
“O planejamento de longo prazo está entranhando na mentalidade chinesa: é resultado de cinco mil anos de história, ao passo que nós nem chegamos a 200 anos como nação independente; o sentimento nacional; a ideologia de valorização do conhecimento, que veio de Confúcio; o gosto pelo mérito: que o Brasil não pratica, há uma recusa em promover o mérito em nosso país; e a ação estatal: em nosso país, o Estado não empurra, amarra. É mais freio do que acelerador”, criticou Cristovam Buarque.
O senador defendeu que sejam criadas novas instituições públicas como a Embrapa e a Fiocruz (além de serem reforçadas e prestigiadas as já existentes) e que as instituições financeiras induzam o empresariado à inovação tecnológica e que haja uma maior aproximação entre as universidades e as empresas. “Há uma recusa mútua a essa proximidade. A universidade teme ser descaracterizada e o empresário é imediatista”, explicou.
Retomando uma bandeira histórica que norteia sua vida política, Cristovam defendeu uma revolução na educação de base, que, a seu ver, deveria ser federalizada, para que um mesmo padrão de excelência esteja disponível às crianças de qualquer região do país, e de qualquer faixa de renda familiar. “Se Ciência e Tecnologia são importantes, e de fato o são, precisaremos de todos os cérebros”, enfatizou.
O senador defendeu ainda uma reforma do ensino superior, que contemple, sobretudo, o mérito. “Precisamos de uma reforma, de longo prazo. Que os professores sejam prestigiados pelo mérito e não pelo tempo de carreira. Que haja metas, definidas pelo diálogo, e que tenha fim a isonomia, em que os salários sejam iguais, independentemente da capacidade e da dedicação do docente. E que seja conferida maior ênfase às Ciências Exatas”, propôs.
Na avaliação do professor Dehua Liu, a Universidade de Tsinghua dedica grande atenção à parceria com a Coppe. “Estamos muito satisfeitos com ela, e acredito que seja possível nos aproximarmos mais e desenvolvermos mais projetos conjuntamente. A expansão depende de financiamento, que é um elemento chave no sucesso de empreendimentos científicos. Nós precisamos de mais apoio”, analisou.
Segundo Liu, o governo chinês acredita que a parceria com o Brasil deveria ser um modelo para os Brics e que é tão importante quanto estabelecer vínculos com a Europa e os Estados Unidos. “Dos países do grupo (Brics), o Brasil é com quem temos melhor entendimento político e complementaridade econômica. Somos os maiores países em desenvolvimento, em nossos respectivos hemisférios”, ponderou o professor, que indicou bioenergia e mudanças climáticas como áreas chave da colaboração sino-brasileira.
Para o professor Romildo Toledo, a realização do seminário e também do 9º WBS (Simpósio Mundial de Bioenergia, na sigla em inglês, realizado de 4 a 6 de novembro) vai além da relação entre Coppe e Tsinghua e amplia essa parceria para outras áreas da UFRJ, como a Escola Politécnica e a Escola de Química, e outras instituições como a Embrapa e a Braskem.
“Ele serve para aumentar a interação entre grupos brasileiros e entre brasileiros e chineses, e inicia uma cooperação entre Coppe, Tsinghua e Embrapa no campo da bioenergia. É uma interação em sinergia, intergrupos”, avaliou.
De acordo com o professor, o foco da cooperação do Centro Brasil-China é mudanças climáticas, energias renováveis e cidades sustentáveis. Este último conceito abrange diversas questões como mobilidade; uso de fontes alternativas de energia em veículos; reuso de água; resiliência urbana às intempéries; eficiência energética; internet das coisas; redução da emissão de gases causadores de efeito estufa e a mensuração dessa redução.