Coppe reafirma necessidade de providências urgentes no Joá

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Data: 05/12/2012

O professor Eduardo Batista destacou a necessidade de reconstruir os tabuleiros superiores e inferiores do viaduto

Em concorrida palestra realizada no auditório do Clube de Engenharia na última terça-feira, 4 de dezembro, a Coppe/UFRJ reiterou sua posição sobre a integridade e segurança do viaduto do Joá. Segundo a conclusão do estudo encomendado à Coppe pela Secretaria Municipal de Obras do Rio de Janeiro e coordenado pelo professor Eduardo Batista, a solução definitiva é a substituição dos tabuleiros superiores e inferiores do viaduto do Joá, em função do grave estado de degradação de suas estruturas de suporte, conhecidas como dentes Gerber.

“É sem dúvida uma intervenção traumática, de logística complexa, mas que deve ser prioritária. Reconheço a dificuldade desta decisão para os gestores, devido aos transtornos inerentes a uma obra deste porte. Mas, após um estudo minucioso chegamos à conclusão de que é preciso fazê-la.”, afirmou o professor Eduardo de Miranda Batista, do Programa de Engenharia Civil (PEC), responsável pelo estudo.

A conclusão do estudo foi apresentada pelo professor Eduardo Batista durante palestra proferida no Clube de Engenharia. O evento contou com mais de 120 participantes, a maioria especialistas e engenheiros, com ampla repercussão na mídia. Estavam presentes ainda o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, e o diretor Tecnologia e Inovação da instituição, Segen Estefen, e o engenheiro especializado em corrosão Luiz Roberto Martins de Miranda. Pinguelli agradeceu ao Clube de Engenharia e à Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE) pela cessão do espaço para o evento e enfatizou a necessidade de aprofundar os estudos sobre o viaduto do Joá. “Todo o apoio será dado pela Coppe para que as ações sejam tomadas de acordo com o que a comunidade e os engenheiros envolvidos nessa questão decidirem”, disse ele.

A palestra levou dezenas de profissionais e interessados no assunto ao Clube de Engenharia

O professor Eduardo Batista, especialista em estruturas, iniciou sua palestra relembrando a grande inspeção realizada em 2010 pela equipe da Coppe no viaduto do Joá, quando foram recomendadas obras de recuperação de vários pilares e juntas degradadas do elevado e estudos para construção de uma via alternativa para ligação da Zona Sul à Barra da Tijuca. O trabalho indicava ainda mais investigações nos cabos de protensão e nos dentes Gerber do viaduto, para as quais a Coppe desenvolveu uma metodologia específica.

“As partes dos pilares que estavam críticas foram todas recuperadas em 2012 pela Prefeitura, assim como as juntas do viaduto. Quanto à prospecção dos cabos de protensão, realizada por nossa equipe, não encontramos sinais aparentes de corrosão, assim como as medições das tensões nos cabos com ajuda de técnica de raio x indicaram condições adequadas na protensão das cordoalhas de aço”, disse o professor.

Em relação aos dentes Gerber, a metodologia de prospecção desenvolvida em 2010 pela equipe da Coppe foi aplicada esse ano durante as obras de reparo estrutural do viaduto. Através de janelas de 50x50cm abertas nas transversinas de apoio em concreto armado do viaduto, foi possível inspecionar as faces visíveis dos dentes Gerber. O resultado desse trabalho está incluído em relatórios escritos e fotográficos das visualizações executadas em 30 pórticos que suportam os tabuleiros superior e inferior (pistas de rolamento) do viaduto de um total de 33 pórticos ao longo do viaduto do Joá. Não puderam ser inspecionados apenas os dentes Gerber que se apoiam em três pórticos, por impossibilidade técnica para abertura das janelas de inspeção.

O estudo constatou que cerca de 10% das regiões visualizadas dos 480 dentes Gerber inspecionados, que suportam os tabuleiros superiores e inferiores do viaduto, apresentam grave estado de degradação estrutural. No entanto, do total de cerca de 2000 faces desses dentes distribuídos ao longo do viaduto, apenas 840 (34%) foram visualizadas e inspecionados, permanecendo outras 1176 faces sem possibilidade de serem visualizadas devido à geometria da estrutura, que impede o acesso.

O estado de corrosão avançada com a consequente degradação do concreto dos dentes Gerber pode ser visto em imagens expostas pelo professor, que exibiu também uma fotografia do viaduto Faria Timbó, que caiu na década de 1980 sobre a via férrea, no bairro de Bonsucesso, em função de comprometimentos estruturais semelhantes aos do viaduto do Joá.

“A palavra chave é incerteza. Antes tínhamos incerteza pela ignorância, não sabíamos o que havia lá. Hoje, após a investigação, quando tivemos acesso a todas as áreas possíveis, temos uma ‘incerteza segura’. Certamente há corrosão se desenvolvendo nessas áreas afetas aos dentes de apoio e sem possibilidade de observação e, muito menos ainda, de recuperação por falta de acesso”, disse o professor.

O professor reafirmou ainda outras recomendações do relatório da Coppe para a Prefeitura do Rio de Janeiro, como a proibição ao tráfego de caminhões pesados e diminuição do limite de velocidade para carros e coletivos de 80km/h para 60km/h. “Não estamos recomendando a interdição do viaduto, ele ainda pode continuar operando, desde que se consiga fazer as obras o quanto antes. A cidade do Rio está com obras monumentais e essa é uma oportunidade única de fazer a obra necessária no viaduto do Joá”, disse o professor, lembrando as próximas Olimpíadas que serão realizadas na cidade.

Corrosão tem 60 tipos diferentes

Segundo o engenheiro Luiz Roberto Martins de Miranda, da Ecoprotec, segundo palestrante do evento, quase todos os viadutos do Rio de Janeiro estão sujeitos à corrosão, cuja fenomenologia da corrosão não se restringe à ferrugem. Existem, na verdade, 60 tipos dela.

“A corrosão pode ser entendida por três palavras: anodo, que é a região do aço que corrói, catodo é a que não corrói, e o eletrólito é o meio corrosivo. O concreto, ainda que sólido, e aparentemente imune a qualquer tipo de corrosão, é um eletrólito, o vínculo entre as regiões anódicas e catódicas”, explicou o professor.

Até se tornar um eletrólito, o concreto age mais devagar em função de ser um meio alcalino, e não ácido. Isso significa que nas estruturas de concreto leva-se mais tempo para perceber a corrosão. Dessa forma, a primeira impressão que se teve no Joá foi que a corrosão tinha como causa a maresia, o que não é real.

O engenheiro Luiz Martins de Miranda falou sobre o processo contínuo de corrosão que afeta o Elevado do Joá

“No caso do Joá, quase todas, ou senão todas as juntas de dilatação permitiram a entrada de águas pluviais que formaram verdadeiras piscinas ao longo de todos os componentes do viaduto. É um eletrólito fantástico”, disse o professor, acrescentando que outras formas de corrosão foram percebidas durante uma inspeção feita no Joá em 1984, tais como corrosão sob tensão, que é muito perigosa e corrosão sob fadiga.

“Desde a recuperação feita nos anos 1987 e 1988 pensava-se que o problema do Joá estaria resolvido, e não está. Na parte inferior dos dentes Gerber onde os detritos se acumulam, a corrosão é mais insidiosa porque ali existe um outro tipo de corrosão que é a corrosão sobre depósito”, explicou o professor.

Em seguida foi iniciado o debate, onde os professores responderam perguntas da plateia e dos jornalistas presentes. Diversas soluções técnicas foram informalmente discutidas entre os engenheiros, como a colocação de suportes transversais no viaduto e até mesmo a utilização das vigas que serão retiradas do viaduto da Perimetral nas obras necessárias no viaduto do Joá. Outros defenderam o abandono total do viaduto, tendo em vista a seriedade do seu comprometimento.

Finalizando o evento, o professor Eduardo de Miranda Batista lembrou que teve oportunidade de apresentar ao secretário de Obras do município as conclusões principais do estudo e adicionalmente fez um relatório aditivo de 17 páginas sobre a gravidade do estado dos dentes Gerber, destacando a necessidade de trocar os tabuleiros.

“O nosso contrato com a Secretaria de Obras está encerrado e essa é a nossa conclusão sobre a integridade e segurança do viaduto do Joá. Se outros profissionais, que eu respeito, vão propor outras soluções, essa é outra questão. Fundamentalmente, nessa oportunidade que nos foi oferecida pela ABPE e pelo Clube de Engenharia o objetivo foi dividir com o público técnico, especialistas em estruturas e construção civil, a nossa preocupação e demonstrar a gravidade do problema’, disse o professor.

Mais informações sobre o estudo da Coppe sobre a segurança estrutural do viaduto do Joá no Planeta Coppe.