Alunos do MBE da Coppe empreendem na área ambiental

Planeta COPPE / Notícias

Data: 23/02/2018

Aula do MBE, ministrada pelo jornalista André Trigueiro

Em março de 2018, a Pós-graduação executiva em Meio Ambiente (MBE) da Coppe/UFRJ completará 20 anos. Pioneiro no país, o curso já formou nessas duas décadas cerca de 1500 alunos. Alguns deles, motivados pelos temas debatidos em sala de aula, decidiram se lançar em novos desafios, iniciando atividades ou empreendimentos voltados para o meio ambiente. Um exemplo é a empresa Action Shop, criada pelo ex-aluno do curso, Arthur Prohmann, em Cachoeiras de Macacu (RJ), que dá destinação ambientalmente adequada a resíduos líquidos.

Formado em Direito e Administração, o ex-aluno da sétima turma do MBE da Coppe trabalhava como administrador de empresas em firmas de engenharia quando decidiu fundar sua própria empresa de prestação de serviços na área ambiental. Segundo Arthur, os acidentes ocorridos na Baía de Guanabara e em Foz do Iguaçu, associados ao aumento de investimentos das empresas de energia em políticas ambientais despertaram seu interesse pelo nicho de mercado. Foi, então, que resolveu procurar a Coppe para se capacitar para os novos desafios.

“A pós-graduação me ajudou muitíssimo, pois eu não sabia nem a teoria nem a prática do novo ramo em que atuaria. O corpo docente do curso é muito qualificado, com professores experientes, nacional e internacionalmente. Eles abriram uma janela enorme para que os alunos viabilizassem seus projetos. Isso permitiu que eu enxergasse com muita clareza as oportunidades do mercado. Além disso, as visitas a empresas foram fundamentais e me ajudaram a decidir o rumo que eu iria tomar”, reconhece Arthur.

Outros alunos aproveitaram o conhecimento e a experiência transmitidos pelos professores do curso para progredirem em suas empresas ou iniciarem, com sucesso, seus próprios projetos. O engenheiro Pedro Wilson, também formado em 2002, na sétima turma do MBE, deixou seu emprego como funcionário da multinacional Lyonnaise des Eaux e fundou, em 2000, a Solução Gerenciamento de Resíduos. A empresa que trabalha com resíduos industriais e corporativos, treinamento, capacitação, licenciamento ambiental e consultoria, fazendo coleta seletiva de materiais recicláveis e não-recicláveis (classe 1). Atualmente a empresa atende a 60 empresas, incluindo a Petrobras, as Lojas Americanas, os shoppings Village Mall e Barrashopping. Possui uma frota própria de 12 veículos e, antes da crise, chegou a empregar em torno de 200 funcionários. Em função da queda na demanda, sobretudo da Petrobras, sua maior cliente, reduziu seu efetivo para cerca de 60 trabalhadores. Mas Pedro está otimista. Ele acredita que com o reaquecimento da economia sua empresa voltará a crescer.

O jornalista André Trigueiro, da GloboNews e TV Globo, cursou em 2001 a sexta turma do MBE. Em 2007, criou o programa Cidades e Soluções, da GloboNews, cuja linha editorial é voltada para iniciativas sustentáveis e temas ligados ao meio ambiente. André, que se tornou referência no jornalismo ambiental, passou de aluno a docente do MBE, onde há dez anos leciona a disciplina Geopolítica Ambiental.

Outro exemplo é o da advogada Priscila Neves, que cursou o MBE da Coppe em 2016, dois anos após aposentar-se como funcionária da Petrobras, onde trabalhou no departamento jurídico, de 1997 a 2014. Desde então, publicou artigos na American Bar Association (ABA) e lançou, em agosto deste ano, o livro “Meio Ambiente e Mudanças Climáticas: compromissos legais firmados, efeitos internacionais e no Brasil”, pela editora E-papers.

Professora Suzana Kahn Ribeiro, criadora do MBE e do MBP

Segundo a professora da Coppe, Suzana Kahn Ribeiro, responsável pela criação do MBE, os períodos de recessão, onde a possibilidade de recursos para o setor é mais escassa, são também períodos de oportunidade para se repensar a carreira, de se reciclar profissionalmente, de estudar e buscar uma maior qualificação. “Na época de fartura, os profissionais aproveitam as ofertas de trabalho que se tornam mais numerosas. Já no período de crise, eles precisam buscar um diferencial na sua qualificação para concorrer em um mercado mais competitivo”, avalia Suzana, que é professora do Programa de Engenharia de Transportes (PET) e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ.

Para o professor Márcio Almeida, do Programa de Engenharia Civil (PEC) da Coppe, coordenador do MBE, apesar do retrocesso na política ambiental, com a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e com a posse de Michel Temer, no Brasil, o futuro é promissor. “A gente espera que a questão ambiental sempre esteja em pauta. O aquecimento da economia e consequentemente de setores como o de energia acabam ativando também a área ambiental. O setor energético e a política ambiental estão muito ligados”, acredita Márcio Almeida.

Action Shop: apostou na verticalização para aumentar a competitividade

Lagoa de tratamento, da Action Shop, em Cachoeira de Macacu

A empresa fundada por Arthur Prohmann iniciou suas atividades alugando sanitários portáteis (popularmente chamados de banheiros químicos), coletando resíduos líquidos em refinarias e canteiros de obras, e levando esses rejeitos para empresas, como Cedae e Águas de Niterói, que lhes davam um destino final mais apropriado. “Aí percebemos que estávamos fazendo o mesmo que nossos concorrentes. Decidimos, então, em 2015, construir a nossa própria planta de tratamento de efluente sanitário e industrial. Verticalizamos o processo: nós coletamos, transportamos e tratamos os resíduos. Assim, nos tornamos muito mais competitivos”, afirmou.

A propriedade da empresa em Cachoeiras de Macacu dispõe de duas lagoas de tratamento, cada uma com capacidade de armazenamento de 3,5 milhões de litros de resíduos líquidos. Com o uso de aeradores que injetam oxigênio e bactérias que digerem o material orgânico, a Action Shop consegue tratar 700 m³ (700 litros) de esgoto por dia. Após o tratamento inteiramente biológico, sem aditivos químicos, a água residual teve 95% de seu material orgânico removido e vai para uma lagoa de monitoramento. Neste último tanque, mais de cinco mil peixes, sobretudo tilápias, servem como bioindicadores, atestando que o tratamento foi bem-sucedido.

O projeto despertou o interesse da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) para pesquisas com fruticultura irrigada com água de reuso. “Foram plantados 400 pés de limão, irrigados por gotejamento; 370 pés de goiaba, e 120 de banana, irrigados por aspersão. Tínhamos a intenção de colher os frutos em três ou quatro anos, mas em dois anos já teremos a primeira safra. Acreditamos que seja em função dos nutrientes. A água de reuso é muito rica em nitrogênio, fósforo e potássio”, afirma Arthur.

Além da planta de tratamento em Cachoeiras de Macacu, a Action Shop possui uma base em Duque de Caxias e outra em Itaboraí, onde aloca sua frota de 45 caminhões, cabines sanitárias que aluga e demais equipamentos. Antes da crise econômica do País, a empresa chegou a ter 100 funcionários e após reduzir suas atividades já se antecipa à recuperação econômica que se avizinha. “Estamos sentindo com otimismo que a economia está saindo da inércia. Já estamos em processo de admissão, sobretudo recontratando ex-funcionários”, antecipa Arthur.

Atualmente, a empresa tem 36 funcionários, mas planeja novas contratações se forem confirmadas as estimativas de crescimento da demanda em relação à 2017 (25% no primeiro semestre de 2018, e 50% no segundo semestre). “É previsto o crescimento da demanda, pois o setor de óleo e gás vai recuperar o dinamismo. A Petrobras prevê novos investimentos, a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) deverá ser retomada, e a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) passará por obras”, explica Arthur.

Teoria e prática na preservação do meio-ambiente

No mês de julho, alunos do MBE visitaram a Action Shop, empresa fundada e presidida pelo ex-aluno Arthur Prohmann. Em seguida, conheceram a Reserva Ecológica do Guapiaçu (Regua), uma área de proteção ambiental gerida por uma organização não-governamental homônima. Instalada na propriedade de uma família inglesa, a ONG foi constituída em 1998 e a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) foi criada em 2012, com o apoio financeiro de filantropos. O presidente da ONG, Nicholas Locke, apresentou aos alunos do MBE os projetos de educação ambiental, restauração da biodiversidade e de proteção de espécies ameaçadas.

Reunindo seis mil hectares de terreno próprio a três mil hectares de áreas florestadas em propriedades vizinhas, a Regua visa à conservação da Mata Atlântica na bacia hidrográfica formada pelos rios Guapiaçú e Macacu, cujas águas atendem a três milhões de habitantes, contribuindo para conectar fragmentos de biodiversidade em um Arco Verde em formação entre a Costa Verde e o Parque Estadual do Desengano.

Ao final de um dia repleto de atividades, os alunos foram recebidos por funcionários da Secretaria Municipal de Agricultura, na Prefeitura de Cachoeiras de Macacu, que deram uma breve aula sobre auditoria para licenciamento ambiental, citando casos concretos de empresas que atuam na cidade.

Sobre o MBE da Coppe

Márcio Almeida, professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe e coordenador do MBE

O curso foi criado em 1998, quando a professora Suzana Kahn Ribeiro, recém-egressa à Coppe, após a conclusão de seu doutorado e anos de atuação na área de energia e meio ambiente na iniciativa privada, resolveu formatar o MBE, convencida da necessidade da universidade atender a uma demanda por especialização, diferente da tradicional formação de pesquisadores.

“Quando fui aprovada no concurso para a Coppe, achei que seria interessante para a instituição preencher esta lacuna, pois havia uma necessidade no mercado de trabalho de profissionais com formação executiva. A formação acadêmica tradicional não faz sentido para quem almeja seguir uma carreira executiva. E a iniciativa privada não valoriza muito a pós-graduação stricto sensu, mestrado e doutorado. Ela valoriza mais os MBAs”, explica Suzana.

Tendo trabalhado na Promon Engenharia, na Shell e na Aracruz Celulose, Suzana utilizou seus anos de experiência no mercado para formatar o MBE, e, seis meses mais tarde, a Pós-graduação executiva em Petróleo e Gás Natural (MBP) da Coppe. Desde então, Suzana se manteve como coordenadora do MBP e vice-coordenadora do MBE, cuja coordenação foi confiada ao professor Márcio Almeida, na época coordenador da área interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe.

Segundo o professor Almeida, o candidato potencial é o profissional que atua ou pretende atuar como gerente ambiental de uma empresa. O curso propicia uma imersão na temática ambiental em seus mais diversos aspectos, questões legais, marketing, economia, perícia. De acordo com o professor, inicialmente o candidato potencial era o profissional que atuava ou pretendia atuar como gerente ambiental de uma empresa. Com o passar do tempo, público se diversificou, atraindo alunos de diversas áreas do conhecimento. “Há muita demanda no MBE por reforço curricular para o ingresso no mercado do meio ambiente. Por exemplo, pessoas com formação em Ciências Ambientais, com mestrado e doutorado, que sentiam falta de ter maior percepção do mercado, para atuar como consultor. Temos também advogados, jornalistas e até médicos”.

Docente da Coppe há 40 anos e professor titular há 23 anos, Márcio Almeida já orientou cerca de 90 dissertações e teses, e publicou 300 artigos em congresso e 70 em periódicos indexados. É Cientista do Nosso Estado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), e Pesquisador 1A, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O conteúdo do curso é abrangente, priorizando o desenvolvimento profissional do aluno, em atividades como: planejar política ambiental empresarial; lidar com órgãos fiscalizadores; gerenciar empresas ambientais de médio e grande porte no setor; participar de fases preparatórias para auditoria de empresas; participar de fases preparatórias para certificação ISO 14000 de empresas; participar de fases preparatórias para licenciamento ambiental de empresas.

A coordenação do MBE mantém contato com os setores de Recursos Humanos de empresas do setor, divulgando oportunidades de emprego para seus alunos e ex-alunos. As aulas são realizadas duas vezes por semana, das 18 às 22h, no edifício da Associação Comercial do Rio de Janeiro, na rua da Candelária, 9 – Centro – Rio de Janeiro/RJ.

Também em 2018, a Pós-graduação executiva em Petróleo e Gás Natural (MBP) celebrará 20 anos de sua criação. O MBE e o MBP são cursos de pós-graduações voltados para um público-alvo multidisciplinar, com variadas formações acadêmicas e profissionais. Seus conteúdos são abrangentes, e focados em atividades empresariais. Saiba mais sobre estes cursos em: http://www.mbcursos.coppe.ufrj.br/

  • MBE