Carência de engenheiros no país preocupa academia e mercado
Planeta COPPE / Engenharia Mecânica / Notícias
Data: 23/12/2011

A escassez de profissionais de engenharia no Brasil é preocupante. Hoje, o Brasil forma apenas 35 mil engenheiros por ano para uma demanda anual de cerca de 90 mil profissionais. Mantida esta defasagem, em 2015 o déficit será de cerca de 220 mil engenheiros. A média brasileira é de seis engenheiros por mil habitantes, cerca de cinco vezes menor que as médias dos Estados Unidos e do Japão, por exemplo. Os desafios para a solução desse problema vêm sendo discutidos por docentes e pesquisadores da Coppe.
“O número de engenheiros anualmente formados está muito aquém da demanda atual e estimada para os próximos anos. Essa escassez constitui um entrave crítico e decisivo à realização das perspectivas atuais de desenvolvimento do país”, adverte o professor Antonio MacDowell Figueiredo, do Programa de Engenharia Mecânica da Coppe, que coordena um grupo de professores da Coppe que vem discutindo o problema. O professor alerta para o fato de que o processo de formação de engenheiros apresenta carências tanto quantitativas quanto qualitativas que não podem ser superadas no curto prazo.
“O problema é complexo e sua solução, em certa medida, demorada. O aumento imediato do número de alunos nos cursos de engenharia é limitado pelas carências de formação dos egressos do ensino médio. A crescente demanda por engenheiros aumenta os níveis de remuneração do mercado de trabalho, reduzindo o número dos que, melhor qualificados, seriam atraídos para o mestrado e o doutorado. Por outro lado, esta formação é necessária para atender a área de pesquisa e para o desenvolvimento de inovações e tecnologias avançadas. A pós-graduação também é um requisito para composição dos quadros docentes com a qualificação exigida para melhoria dos padrões de formação de futuros engenheiros”, explica Figueiredo.

Algumas empresas tentam reverter esse quadro estimulando seus profissionais a buscar cursos de especialização nas universidades. Mas, continua o professor da Coppe: “este processo é limitado, porque elas já operam com um número insuficiente de engenheiros”. Outras proposições sugerem uma abertura irrestrita do mercado de trabalho a engenheiros de outros países. Como política geral, “isso traz, obviamente, uma preocupação. Com o mercado oferecendo salários competitivos, se for significativa a entrada de profissionais estrangeiros bem qualificados, reduz-se a pressão e eventualmente perde-se a oportunidade de promover uma alteração estrutural do sistema de ensino que venha a atender às demandas quantitativas e qualitativas por engenheiros formados no país”, reflete.
A situação geral do sistema de ensino é outra preocupação dos professores da Coppe. Segundo Figueiredo, não haverá solução duradoura se não for melhorada a formação do aluno que chega à universidade para cursar engenharia, cujas deficiências acumulam-se já a partir do ensino fundamental. No ano passado, nos exames de acesso aos cursos de engenharia da UFRJ, “a relação candidatos/vaga dobrou, de 8 para 16; mas 30% dos candidatos classificados não atingiram o mínimo de pontos nas disciplinas de matemática, física e química. Estes alunos, admitidos mesmo sem atingir a nota mínima, são fortes candidatos a conclusão tardia ou mesmo evasão do curso por falta de condições para conclusão. Esse problema não se resolve, portanto, apenas com o aumento de vagas ou incentivos pontuais para atrair mais alunos. Na verdade, sobram vagas. Por outro lado, o aspecto positivo é que, com a valorização da profissão, a evasão está caindo”, afirma.
Para Figueiredo, além de currículos mais adequados e melhores condições de trabalho e instalações físicas das unidades de ensino dos níveis fundamental e médio, o requisito mais importante para melhoria da formação discente é a valorização e dignificação da atividade docente. “Precisamos de medidas concretas, capazes de atrair os melhores alunos para os cursos de licenciatura. Mas como atraí-los se a perspectiva profissional é tão ruim e os salários tão baixos? Se usarmos como exemplo a constituição do corpo docente da Coppe, os requisitos devem ser: seleção rigorosa, dedicação exclusiva às respectivas unidades de ensino, remuneração competitiva e avaliação sistemática de desempenho. A busca de novas e consistentes soluções estruturais para todo o sistema de ensino deveria ser uma preocupação e um projeto de toda a sociedade, não só para formar mais engenheiros”, conclui o professor da Coppe.