Celso Amorim e Oscar Niemeyer na COPPE: um encontro memorável
Planeta COPPE / Notícias
Data: 26/04/2008
O dia 25 de abril de 2008 ficará registrado na memória da COPPE. Professores, alunos e convidados lotaram o auditório da instituição para assistir a conferência do Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e ter a oportunidade de ver e ouvir Oscar Niemeyer. Mas acabaram tendo uma aula de vida, uma aula de quem já viveu 100 anos. De convidado especial, o mestre da arquitetura roubou a cena e em poucas palavras disse o essencial: cobrou solidariedade, criticou o “homem especialista” e celebrou a vida. Composta pelo Diretor da COPPE, Luiz Pinguelli Rosa, pelo Ministro Celso Amorim e Oscar Niemeyer, a mesa do evento mais parecia um encontro entre amigos diante de uma platéia vibrante e consciente de estar vivendo um momento especial. Um verdadeiro presente para a COPPE, que está comemorando 45 anos.
Na abertura, Pinguelli revelou que a idéia original era fazer uma homenagem a Oscar Niemeyer. No entanto, contou ele, o próprio Oscar preferiu ser convidado especial de uma conferência que fosse proferida pelo Ministro Celso Amorim, por considerar que a política externa tem sido um dos pontos altos do Brasil, tendo “contribuído para que o País se tornasse respeitado no mundo como uma nação soberana e de progresso contínuo”, afirmou Niemeyer. Pinguelli disse que Niemeyer representa o nacionalismo que marcou a esquerda brasileira e citou o professor da COPPE, Lobo Carneiro, como um outro exemplo de nacionalista, uma referência da engenharia brasileira que teve um importante papel na criação da Petrobras e da tecnologia que tornou o Brasil líder na exploração de petróleo em águas profundas. “O Oscar é um grande exemplo brasileiro que nos orgulha muito. É uma coerência da esquerda brasileira”, ressaltou o Diretor da COPPE, que presenteou Niemeyer com o livro Engenharia da Transparência: vida e obra de Lobo Carneiro.
Oscar surpreendeu os organizadores, mudando inteiramente o script. O previsto era que o arquiteto sentaria na primeira fileira da platéia e que não falaria. Mas logo que entrou na instituição, como que contagiado pela calorosa receptividade, mudou os planos: resolveu sentar à mesa e assumiu o microfone, antes mesmo do palestrante. Ao falar de sua trajetória e da vida, comoveu a platéia. Niemeyer disse que mesmo tendo nascido em família tradicional e católica, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, onde teve o prazer de aprender a ajudar os outros. Apesar de seu pai ter sido ministro do Supremo Federal, sua família passou por dificuldades financeiras. “Passei a enxergar o outro lado da vida”, ressaltou o arquiteto que, a partir de então, passou a adotar o comunismo como ideologia política. Oscar Niemeyer também aproveitou para chamar a atenção dos jovens. “Os jovens, hoje, crescem com dinheiro, bom médico, mas não lêem nada. Só pensam em ganhar dinheiro. Desconhecem o mundo perigoso, não sabem como o mundo é injusto,” advertiu o arquiteto cobrando mais solidariedade. Também criticou o que chamou de “homem especialista”, aquele que só conhece e só se importa em resolver problemas relacionados à área na qual se formou. “O importante é a vida! A engenharia e a arquitetura só têm sentido se estiverem voltadas para a vida”, ressaltou.
O arquiteto também fez elogios ao governo Lula e a política externa brasileira. “Este é um momento de otimismo no Brasil e na América Latina, onde os governantes estão ficando cada vez mais unidos e populares, e estão lutando pela soberania de seus países”, afirmou.
A inserção global começa pela América do Sul
O Ministro Celso Amorim iniciou sua conferência dizendo que era difícil falar logo após uma pessoa tão ilustre como Oscar Niemeyer. “Mas tem um lado positivo: todas as críticas da mídia desaparecem quando Oscar homenageia a política externa brasileira”, ressaltou o Ministro que atribui a evolução da imagem do Brasil no exterior à adoção de uma política bem estruturada, da criatividade e da solidariedade para solucionar os problemas do País, sem prejudicar outra nação. “Para fortalecer nossa inserção global é necessário começar pela América do Sul. Uma inserção individualista não condiz com a extensão dos desafios do mundo atual. É inconcebível um Brasil próspero em meio a uma América do Sul miserável ou permanentemente sujeita a crises de governabilidade”, ressaltou. “A América do Sul e o Caribe já representam 26% da exportação brasileira, percentual superior ao da União Européia”, revelou o Ministro destacando a importância da região para a economia brasileira.
Amorim frisou que a solidariedade com outros países não é contraditória com a defesa dos direitos brasileiros. “A dita preocupação com o interesse nacional não apareceu quando o Brasil se curvava ao FMI, aos EUA e a países europeus”, disse o Ministro, mandando um recado direto para os que criticam a atual política externa brasileira. Também fez questão de ressaltar que não há crise nas relações com o Paraguai. Com relação ao contrato da Usina de Itaipu, um dos temas do dia, Amorim disse aos jornalistas, após a conferência, que não há como mexer na essência do que foi feito, de forma a fornecer energia para os dois países, e que assim tem que continuar.”O que será feito é uma combinação de coisas que seja boa para o Brasil, para o Paraguai e para o Mercosul como um todo”, antecipou o Ministro, argumentando que o investimento nas transmissões de energia em Assunção seria uma forma muito mais efetiva de ajudar no desenvolvimento do Paraguai, mas crê que o governo local achará que esta não é a única solução.
O Ministro aproveitou a conferência para falar sobre outro tema em pauta na imprensa mundial. “Etanol é como colesterol. Tem o bom e o ruim. O etanol de milho é o ruim. O etanol de cana-de-açúcar é o bom. Vamos distinguir as coisas e ver dessa maneira”, exemplificou o Ministro, refutando as recentes críticas a política de biocombustíveis adotada pelo Brasil. Amorim imputou ao subsídio agrícola a responsabilidade pela subida dos preços dos alimentos. “O Etanol de cana-de-açúcar utilizando terras não destinadas à agricultura e não substituindo culturas como arroz, milho e trigo, é uma das soluções para a crise energética. Além disso, gera emprego e contribui para redução das emissões de C02”, concluiu.
No final da cerimônia, Oscar Niemeyer acabou sendo homenageado com uma placa fixada na parede do auditório da COPPE, que ele descerrou ao lado do Ministro Celso Amorim.
Assista a cerimônia por meio do link abaixo:
Criação e Inovação na Política Externa Brasileira