Coppe estuda o impacto das moedas comunitárias na economia local
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 20/02/2025

As moedas comunitárias são uma forma alternativa de moeda que circula em comunidades ou grupos específicos, com o objetivo de fortalecer a economia local, melhorar a distribuição de renda dentro da comunidade e reduzir a dependência de grandes instituições financeiras. No Brasil, a moeda comunitária foi introduzida em 1998 pelo Banco Comunitário Palmas, em Fortaleza, sob o formato de papel moeda e com o nome de “Palma”, que existe até hoje.
Em plena expansão, o uso das moedas comunitárias já chega a 180 experiências no Brasil, e sua crescente adoção tem atraído a atenção de pesquisadores que buscam compreender seu impacto na economia brasileira, incluindo sua digitalização.

A dinâmica das transações com essa nova moeda vem sendo estudada pelo professor Luiz Arthur de Faria, do Programa de Engenharia de Sistema e Computação (Pesc) da Coppe/UFRJ, em articulação com outros núcleos, como o Observatório de Bancos Comunitários e Moedas Sociais (OBM) e o Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira (Cemif/FGV). A partir das pesquisas realizadas com os dados computacionais gerados pelas transações virtuais, Luiz de Faria tem desenvolvido, no Laboratório de Informática e Sociedade (LabIS) do Pesc, estudos que ampliam a compreensão sobre as moedas comunitárias digitais e sua relevância para a sociedade.
Como resultado de seus estudos, Luiz de Faria, juntamente com outros professores, escreveu o artigo “Centralizing or sharing the digital community currencies governances? Proposing ways of thinking DCCs from the Mumbuca case“, que explora as implicações das diferentes formas de digitalização das moedas sociais ou comunitárias (MCs) no Brasil. O artigo toma como base o caso da Mumbuca, moeda usada em Maricá (RJ), que foi a primeira prefeitura a adotar uma plataforma digital para moeda social. Para operacionalizar as moedas digitais, diversas tecnologias são essenciais para garantir segurança, eficiência e escalabilidade. A moeda, aos poucos, conquistou a confiança da população e passou a ser amplamente utilizada no comércio local, o que levou a prefeitura a adotar o microcrédito, beneficiando comerciantes e seus clientes.
No LabIS, também foi desenvolvido o projeto Monitoramento da Circulação de Moedas Sociais, que analisa os dados gerados pelo uso de moedas digitais, por meio de aplicativos ou cartões magnéticos, por exemplo, em estabelecimentos. Luiz de Faria explica que essas informações permitem visualizar o desenvolvimento das regiões que utilizam tais moedas, como possibilidades de diminuição da desigualdade e expansão da renda para além do centro da cidade.

Para se adequarem às legislações de pagamentos eletrônicos, a Rede Brasileira de Bancos Comunitários criou o Instituto É-Dinheiro – uma organização da sociedade civil de interesse público (OSCIP), responsável por administrar um fundo de garantia que lastreia e regulariza essas moedas. “Tal mecanismo de segurança assegura que as moedas possam ser convertidas em reais e facilita a transferência de renda. A taxa de 1% cobrada na troca da moeda por reais é destinada à manutenção da plataforma, sendo metade dela destinada ao banco local, podendo ser utilizada como microcrédito para revitalização da comunidade e impulsionamento da economia local, explica o professor da Coppe.
De acordo com Luiz de Faria, as moedas comunitárias têm um grande potencial também internacional. A França, por exemplo, conta com cerca de 100 experiências, e a Itália sediou o 7th Biennial RAMICS International Congress em Roma, Congresso internacional que discutiu o futuro do dinheiro, democracia, localismo e inclusão. O próximo congresso, um evento acadêmico de pesquisa, será realizado em 2026 no Rio de Janeiro.
Exemplos no Rio de Janeiro
Já existem oito municípios no Estado do Rio de Janeiro com a moeda digital em funcionamento, sendo eles: Porciúncula, Macaé, Niterói, Saquarema, Itaboraí, Cabo Frio, Iguaba Grande, e Maricá. Além disso, as cidades de Petrópolis e do Rio de Janeiro estão discutindo sua implantação.
- Porciúncula (RJ) – “Elefantina”
- Macaé (RJ) – “Macaíba”
- Niterói (RJ) – “Araribóia”
- Saquarema (RJ) – “Saquá”
- Itaboraí (RJ) – “Pedra Bonita”
- Cabo Frio (RJ) – “Itajuru”
- Iguaba Grande (RJ) – “Caboclinho”
- Maricá (RJ) – “Mumbuca (A Mais conhecida, foi a primeira cidade do Rio a ter uma plataforma digital para utilizar a moeda)
Para saber mais:
LabIS – https://is.cos.ufrj.br/labis
RAMICS – https://ramics.org
CEMIF/FGV – https://eaesp.fgv.br/centros/centro-estudos-microfinancas-e-inclusao-financeira/sobre
OBM – https://www.instagram.com/obm.observatorio
- moeda digital
- moeda social