Dentistas investem no campo da engenharia
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Data: 25/08/2006
Dispostos a ampliar a área de atuação, os profissionais de odontologia resolveram investir na exploração de “universos” aparentemente distantes, como o da engenharia. Há oito anos, esses profissionais começaram a freqüentar as salas de aula e os laboratórios do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais (PEMM) da COPPE, uma das primeiras instituições de ensino no Brasil a receber dentistas nesta área. E ao que tudo indica, os “profissionais de branco” vieram para ficar. Hoje, 50% dos candidatos aos cursos de Mestrado e Doutorado nesta área do conhecimento são dentistas. Anualmente, somam cerca de 50 os profissionais de odontologia que se inscrevem para concorrer às vagas oferecidas por este Programa. Do total, em média, sete são selecionados.
Embora a interdisciplinaridade não seja uma novidade para a instituição, que integra 12 programas em áreas diversas, há menos de uma década, praticamente todos os alunos que cursavam Mestrado ou Doutorado em Engenharia Metalúrgica e de Matérias eram engenheiros ou profissionais formados em áreas das ciências exatas. Segundo a professora Glória Dulce de Almeida Soares, coordenadora do Programa, a principal razão para esta migração deve-se à crescente necessidade e interesse desses profissionais em desenvolver e conhecer profundamente os novos materiais usados na odontologia.
“Como a cada ano surge um produto novo no mercado, os profissionais querem estar seguros em relação ao que aplicam em seus pacientes. E para avaliar é preciso ter conhecimento especializado, caso contrário, é obrigado a confiar exclusivamente nas informações dadas por fornecedores.”, afirma a professora, que embora hoje encare com naturalidade o interesse dos dentistas pela área, confessa que em 1998 se surpreendeu ao constatar que dois novos mestrandos, Cristina Costa de Almeida e Antonio Girard, eram formados em odontologia.
Diferenças à parte, a atuação dos dentistas nesta área da engenharia tem gerado resultados promissores na instituição. Os “profissionais de branco” já defenderam 42 dissertações de Mestrado e três teses de Doutorado. No momento, cerca de 30 alunos estão pesquisando formas de desenvolver materiais mais resistentes, esteticamente mais elaborados e de baixo custo. “O objetivo é desenvolver materiais mais duradouros e que propiciem melhores resultados técnicos”, afirma Glória.
O futuro está nas ciências convergentes
Para atender a nova clientela de alunos, a COPPE criou disciplinas em biomateriais e propiciou instalações específicas para a área, como os laboratórios de Cerâmicas Dentais, Materiais Compósitos Dentários e Biomateriais para Engenharia Óssea. Atualmente, o Programa possui 13 docentes dedicados, entre outros temas, à formação desses profissionais, além de dois professores colaboradores da área da saúde, proporcionando também a interação com pesquisadores de outras áreas da universidade como química e física e geologia. “Aos poucos, esses novos Mestres e Doutores mudarão conceitos. O futuro está na denominada ciência convergente, caracterizada pela junção de várias formas de conhecimento”, conclui Glória.
Abertura para novos horizontes: pesquisadores revelam-se empreendedores
Cristina Costa de Almeida e Antonio Girard Júnior e Guaracilei Maciel Vidigal Jr. foram os primeiros profissionais de odontologia a defenderem, respectivamente, suas dissertações de mestrado e tese de doutorado no Programa da COPPE. Hoje, Guaracilei, com 40 anos de idade, divide seu tempo entre o consultório e a coordenação do curso de mestrado em Implantologia Oral, na faculdade Unigranrio, onde desenvolve novos materiais dentários em parceria com duas empresas privadas. “O doutorado na COPPE me possibilitou compreender melhor a estrutura dos materiais. Antes, eu só dominava a parte biológica”, explica.
Camila Dolavale resolveu retornar à universidade em 2003. Concluiu o Mestrado e está cursando o Doutorado em Engenharia de Materiais na COPPE. Segundo Camila, a pós-graduação despertou seu espírito empreendedor. “Como os cursos de odontologia do Rio de Janeiro são carentes em pesquisas na área de materiais, decidi fazer pós-graduação na COPPE. Foi onde percebi que os resultados dos estudos poderiam gerar produtos com chance de serem lançados no mercado, ainda mais que no mundo apenas 3% das empresas que produzem material odontológico são brasileiras”, relata.
Sob a orientação do Professor Fernando Bastian, Camila vem desenvolvendo pesquisas na área de compósitos para restauração dentária. No momento, ela está concentrando suas pesquisas no aperfeiçoamento da resina composta (compósito usado na obturação), um material formado por polímeros reforçados com partículas cerâmicas ou de vidros. Para tornar o material mais resistente e durável, ela vem testando partículas nanométricas de argila. “As resinas compostas aplicadas nos dentes duram menos de oito anos. Um produto mais resistente vai proporcionar economia e conforto ao paciente, já que o trabalho dentário terá maior durabilidade”, explica Camila, que em breve pretende abrir uma empresa com sua companheira de doutorado, Taís Munhoz, para comercializar esta nova resina.
O dentista Marcio Baltazar Conz, ex-aluno de doutorado, pretende continuar aprimorando o biomaterial granular voltado para enxertos ósseos, já aplicados com sucesso em ratos. O biomaterial sintético apresenta características físico-química similares a um enxerto ósseo importado, de origem bovina, que embora seja amplamente referenciado na literatura mundial, está proibido de ser comercializado no Brasil pela vigilância sanitária. Uma oportunidade para soluções alternativas, como a do biomaterial desenvolvido na COPPE. Mas este, para poder ser comercializado, precisa ainda passar por testes pré-clínicos e clínicos e obter licenças de órgãos credenciados.
Especialização poderá gerar futuras patentes
Taís Munhoz, que iniciou o seu doutorado no ano passado, sob orientação do professor Luiz Henrique de Almeida, está trabalhando no aprimoramento das propriedades mecânicas do cimento ionômero de vidro. Os freqüentadores das cadeiras de dentista com certeza já foram apresentados ao produto: trata-se de um material branco, usado pelos dentistas há alguns anos como substituto à amálgama na obturação. Embora esteticamente mais bonito, o cimento ionômero ainda apresenta algumas fragilidades em relação a forças aplicadas pelos dentes durante a mastigação. “Optei por trabalhar no aumento da resistência deste cimento que também apresenta a vantagem de liberar fluoretos. O flúor contribui para a recuperação do tecido cariado do dente e interrompe o processo de cárie”, explica a aluna, que vem atuando nesta linha de pesquisa desde 2003, quando iniciou o seu Mestrado na COPPE, concluído em 2005. “Já conseguimos aumentar a resistência do ionômero de vidro em aproximadamente 50%”, afirma Taís, que animada com o resultado pensa em patentear a tecnologia desenvolvida e quer montar a própria empresa.
O aluno Vinícius Bemfica Barreira Pinto também tem esperança em patentear os produtos que vêm sendo desenvolvido pela equipe que integra na COPPE. Sob a orientação do professor Tsuneharu Ogasawara, coordenador do Laboratório de Cerâmicas Dentárias, Vinícius está prestes a defender sua tese de doutorado, cujo tema é voltado para melhoria da qualidade da porcelana usada em coroas dentárias, denominada vidro-cerâmica. O professor, com o apoio da aluna de mestrado, Daniela Barini, e em parceria com outros pesquisadores da COPPE e do Centro de Tecnologia Mineral, estão trabalhando no desenvolvimento deste material. O objetivo é obter um produto composto por minerais brasileiros que sejam mais resistentes e propicie melhor efeito estético. Outro exemplo é o da aluna de doutorado Mônica Zacharias Jorge, que sob a orientação da professora Maria Cecília, vem trabalhando para o desenvolvimento de novas tecnologias para a confecção de próteses.
É grande o empenho desses profissionais na busca por inovações tecnológicas. Sob orientação do professor Sérgio Camargo, coordenador do Laboratório de Recobrimentos Protetores, a odontologista Juliana Antonino de Souza está trabalhando no aperfeiçoamento das metodologias para avaliar o desgaste dentário. Em parceria com pesquisadores da área de robótica da COPPE, a aluna vem atuando numa pesquisa, inédita, para desenvolver aparelhos que simulem com maior precisão os movimentos da boca durante a mastigação.