Emérito, Pinguelli critica violação à autonomia universitária

Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias

Data: 09/04/2013

Em cerimônia marcada pela emoção e pela defesa da autonomia universitária, o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, recebeu o título de professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), maior honraria concedida no meio acadêmico. A cerimônia, realizada durante sessão solene do Conselho Universitário, no auditório da Coppe, reuniu cerca de 300 pessoas, entre representantes da comunidade acadêmica, dos setores de energia e de ciência e Tecnologia e autoridades do governo, como a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ex-aluna da Coppe. Confira o vídeo de cobertura da solenidade.

O reitor da UFRJ, Carlos Levi, ao centro, definiu Pinguelli como uma pessoa à frente do seu tempo

Presidida pelo reitor da UFRJ, Carlos Antônio Levi da Conceição, a cerimônia contou com as presenças dos professores Alberto Luiz Coimbra, professor emérito da UFRJ e fundador da Coppe; Walter Suemitsu, decano do Centro de Tecnologia da UFRJ; Ericksson Rocha e Almendra, diretor da Escola politécnica da UFRJ; Edson Watanabe, diretor de Assuntos Acadêmicos da Coppe; Segen Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe; e José Carlos Pinto, diretor Adjunto de Tecnologia e Inovação da Coppe.

Considerado um dos maiores especialistas do Brasil na área de energia, Pinguelli é conhecido tanto pelas suas contribuições à ciência como pelas suas posições firmes em relação a temas de interesse nacional e a questões que envolvem a universidade. Ao agradecer o título de professor emérito, Pinguelli voltou a manifestar publicamente sua preocupação quanto à autonomia universitária, especificamente acerca dos recentes episódios envolvendo a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Controladoria Geral da União (CGU).

Citando autores como Shakespeare, Lima Barreto e Machado de Assis, Pinguelli criticou com veemência as descabidas e contraditórias prescrições endereçadas a gestores das universidades federais reunidas em uma cartilha lançada recentemente pela Controladoria-Geral da União (CGU), que classificou como uma “violação da autonomia das universidades federais”.

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, ao centro, prestigiou a cerimônia de emerência

“Para fazer ciência, é preciso respeitar a Constituição, que prevê um regime especial e flexível”, afirmou o professor emérito da UFRJ.

A saudação ao homenageado ficou a cargo do diretor de Tecnologia e Inovação da Coppe, que fez uma breve retrospectiva da trajetória do professor. Segen Estefen destacou momentos como sua passagem pelo Exército; sua detenção em 1964, no Golpe Militar; sua opção pela academia, sua gestão à frente da Coppe e sua firme posição denunciar a violação da autonomia das universidades federais brasileiras.

Em um longo e caloroso pronunciamento, o reitor da UFRJ, professor Carlos Antônio Levi da Conceição, definiu Pinguelli como uma pessoa a frente do seu tempo. “A história recente da UFRJ não poderá ser contada sem um capítulo mostrando a atuação destacada do professor Luiz Pinguelli Rosa”, afirmou.

Os membros da Comissão de Honra representavam momentos diferentes da trajetória do homenageado

A Comissão de Honra da Cerimônia de Emerência do Professor Luiz Pinguelli Rosa foi formada pelos professores Zieli Dutra Thomé Filho, ex-presidente da Eletronuclear e ex-professor da Coppe; Marta Feijó Barros, professora do Instituto de Física da UFRJ; Marcos Aurélio Freitas, coordenador do Programa de Planejamento Energético da Coppe; Suzana Kahn Ribeiro, subsecretária de Economia Verde da Secretaria de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro e professora da Coppe; e Luiz Fernando Lomba Rosa, professor da Faculdade de Arquitetura da UFRJ. Cada um deles representando um período da trajetória profissional e pessoal do professor Pinguelli .

Sobre o homenageado

Cerca de 300 pessoas participaram da sessão solene, também transmitida via internet

Luiz Pinguelli Rosa nasceu no Rio de Janeiro, em 1942. Doutor em Física, Pinguelli ingressou na Coppe em 1970 e desde 1989 é professor titular da instituição, onde ocupa o cargo de diretor pela quinta vez. Foi eleito pela primeira vez para comandar a Coppe em 1986. A convite do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocupou a Presidência da Eletrobras, entre janeiro de 2003 e maio de 2004, período em que se licenciou da Diretoria da Coppe. Voltou a ser eleito diretor da instituição em 2007, sendo reeleito em 2011. Em dezembro de 2004 passou a ocupar também a Secretaria-Executiva do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, presidido pelo presidente da República.

O professor já orientou 104 dissertações de mestrado e teses de doutorado. Tem mais de 180 trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior. Na Coppe, foi eleito para o cargo de diretor por cinco mandatos: assumiu a direção pela primeira vez em 1984 e, recentemente, em 2011.

Um quixote brasileiro

Reconhecido por suas contribuições na área científica e pela firme posição em defesa do que acredita, Pinguelli se mantém presente no debate dos grandes temas nacionais. Foi assim nos anos 80, quando criticou publicamente o governo pela condução do programa de energia nuclear brasileiro, tornando-se um dos líderes do debate sobre o tema no país. Na direção do Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ, nos anos 90, reuniu intelectuais e especialistas para debater o Brasil, tornando o Fórum uma espécie de reduto de pensadores, como o sociólogo Herbert de Souza, o economista Antônio Barros de Castro, o cientista político René Dreyfus, entre outros.

Nos anos 2000, veio a público alertar a sociedade e o governo brasileiro para o risco de uma grave crise no setor energético, que se confirmou com o fenômeno que ficou conhecido como “apagão”. A carta endereçada ao presidente da República e ao ministro das Minas e Energia com um alerta sobre o problema iminente foi publicada, em 2001, no livro de sua autoria, intitulado O apagão: porque veio? Como sair dele?. No momento, Pinguelli denuncia com veemência a “violação da autonomia das universidades federais”, por meio de “prescrições contraditórias e arbitrárias” reunidas em uma cartilha lançada recentemente pela Controladoria-Geral da União (CGU) e endereçada a gestores das universidades federais.

A trajetória de Luiz Pinguelli Rosa na Coppe, instituição que dirige pelo quinto mandato, é igualmente notável. O professor foi um dos fundadores da pós-graduação em Planejamento Energético, a primeira do país, que hoje também desenvolve estudos e forma mestres e doutores na área de planejamento ambiental. Nos anos 90, liderou a implantação do I2000, o maior complexo de laboratórios da América Latina na área de engenharia, que reúne mais de 80 laboratórios. Também foi responsável pela criação, em 1999, do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig), vinculado à Coppe, no qual são desenvolvidos estudos e pesquisas, com ênfase em energia e meio ambiente.

Percurso destacado

Ex-aluno do Colégio Pedro II, Pinguelli optou a princípio pela carreira militar, na qual poderia continuar seus estudos na área tecnológica. No entanto, pediu demissão do Exército em 1967 por não apoiar o golpe de 1964. À procura de outra carreira, começou a estudar Física na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, posteriormente incorporada pela UFRJ. Fez ainda o mestrado em Engenharia Nuclear na UFRJ e o doutorado em Física na PUC-Rio.

Destacou-se na academia: até o momento orientou 104 dissertações de mestrado e teses de doutorado e tem mais de 180 trabalhos científicos publicados no Brasil e no exterior. É autor de seis livros, entre eles Tecnociências e humanidades: novos paradigmas, velhas questões, cujo primeiro volume foi publicado em 2006 pela editora Paz e Terra. Os dois volumes concorreram ao Prêmio Jabuti na categoria Humanidades. Também é autor de capítulos de várias publicações editadas no país e no exterior.

Membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e do conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Pinguelli foi membro do Conselho Pugwash (1999-2001) – associação fundada por Albert Einstein e Bertrand Russell, agraciada com o Nobel da Paz em 1995 –; secretário-geral da Sociedade Brasileira de Física por dois mandatos, de 1994 a 1998; e presidente da Associação Latino-Americana de Planejamento Energético, de 1994 a 1998.

Desde 1998, colabora como autor ou revisor de relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC), uma entidade da ONU que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Pinguelli recebeu ainda diversos títulos e premiações ao longo de sua carreira: o Forum Award da Associação Americana de Física, em 1992; a comenda com o grau de Chevalier de l’Ordre des Palmes Académiques, concedido pelo Ministério da Educação da França, em 1998; e foi o vencedor do Prêmio Golfinho de Ouro, categoria Ciências, concedido pelo Conselho Estadual de Cultura do Governo do Estado do Rio de Janeiro, no ano 2000.