Encontro na Coppe debate caminhos para a inovação na universidade
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 01/09/2017
Como tornar a universidade brasileira mais inovadora? Essa foi a tônica do encontro entre alunos e professores da Coppe/UFRJ e os pesquisadores americanos, James Kurose, diretor-adjunto da National Science Foundation (NSF), e Guru Parulkar, diretor-executivo do Laboratório de Open Networking, da Universidade de Stanford , nesta terça-feira, 29 de agosto. O debate sobre o tema Inovação foi marcado por clima informal e suscitou muitas perguntas da platéia a Kurose, cuja participação foi presencial, e Parulkar, remotamente, via Skype. Seu voo foi cancelado em virtude da passagem do furacão Harvey pelos Estados Unidos.
Kurose e Parulkar trouxeram a larga experiência acumulada em trabalhos no meio acadêmico, empresarial e governamental em um país reconhecido por sua liderança, tanto na produção acadêmica quanto na inovação. O encontro foi conduzido pelo diretor da Coppe, professor Edson Watanabe, e o professor Edmundo Albuquerque de Souza e Silva, do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação (PESC) da Coppe.
Questionados pelo professor Watanabe, sobre como criar um ambiente adequado para despertar “o DNA” da inovação na universidade, ambos os convidados destacaram a importância de haver professores com perfil empreendedor no corpo docente; de tornar a criação de empresas ou obtenção de patentes tão valiosas para a progressão docente quanto à publicação de artigos, e de haver financiamento de risco, seja ele público ou privado, para ajudar startups a darem o passo seguinte e ganharem escala.
Universidade deve falar sobre transferência de tecnologia sem preconceito
Lembrando o que qualificou como “paradoxo da ciência brasileira” – o país obtém destaque em termos de publicações e citações, porém figura apenas na 69ª posição no ranking internacional de inovação – o vice-diretor da Coppe, professor Romildo Toledo indagou: “onde erramos? O que a universidade precisa fazer para criar um ambiente propício à inovação?”
Segundo Kurose, o ambiente acadêmico é fundamental para disseminar a inovação. “É preciso espalhar pela universidade que uma forma de ser um professor de sucesso é ser um inovador bem sucedido. Além de contar o número de publicações, deve haver outra forma de medir o êxito que mostre que ser capaz de inovar e abrir uma empresa é tão importante quanto ser capaz de publicar artigos em periódicos”, defendeu Kurose.
Para Guru Parulkar, é importante que a administração da universidade tenha a mentalidade correta e que no corpo docente haja professores com experiência empreendedora. “Em Stanford, se fala em sala de aula sobre transferência de tecnologia, conexões e experiências, sem preconceitos, sem tabus, sem que isso seja considerado inapropriado”.
Segundo o professor, que já foi agraciado com Prêmio Empreendedorismo, da National Entrepreneurship Awards (NEA), em 2001, a ênfase dada à contagem de publicações e citações faz com que poucos professores se disponham a levar a pesquisa às últimas consequências, ou seja, ao fornecimento de algum serviço ou produto inovador à sociedade. Parulkar recomendou aos alunos, pesquisadores e professores presentes ao auditório da Coppe que assistissem a um vídeo sobre inovação do professor John Hennessy, reitor da Universidade de Stanford, disponível no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=R6RROGyV7kY
Parulkar, que já abriu diversas empresas de base tecnológica bem-sucedidas, falou com conhecimento de causa sobre a necessidade de o empreendedor ter confiança na sua ideia inovadora e ser capaz de difundir essa crença em terceiros. “É preciso ter uma ideia na qual se acredite e depois reunir pessoas que também acreditam nessa ideia. Isso vai demandar energia, esforço. Tendo isso, tudo mais se encaixa”, relatou o professor, cuja experiência empreendedora é valorizada na Universidade de Stanford.
Políticas públicas apropriadas podem motivar a inovação no país
No tocante às estratégias de cada país para fomentar a inovação, professor Kurose ponderou que não há uma receita única. Por um lado, os Estados Unidos financiam a pesquisa básica por intermédio de instituições públicas como a National Science Foundation, e deixam o restante por conta do capital privado, por outro lado, as instituições públicas europeias acompanham as empresas por muito mais tempo. Mas em sua avaliação o arranjo institucional escolhido por cada país faz a diferença na atração de empreendimentos. “Os jovens franceses estão abrindo empresas no sul da Inglaterra porque as condições de financiamento, as leis trabalhistas e o ambiente de negócios são mais atrativos lá do que na França. Isso mostra como as políticas públicas são importantes”, comparou.
Segundo o diretor da NSF, uma iniciativa muito exitosa nos Estados Unidos é que as grandes universidades promovem cursos de empreendedorismo e competições de negócios. “As universidades recebem recursos públicos e tentam retribuir ajudando na geração de empresas e empregos. É a primazia tecnológica que impulsiona o crescimento americano. Os Estados Unidos são uma sociedade direcionada pela inovação, e ajudamos a indústria americana a gerar empregos”, avaliou James Kurose.
As oscilações naturais que ocorrem na confiança dos estudantes, em particular os de pós-graduação, também foram objeto de consideração por parte do professor James Kurose. “Estudantes vivem em altos e baixos. Quando estava no doutorado, eu pensava em fazer uma obra que se tornasse referência. Um mês depois eu achava que era a coisa mais estúpida já feita na área. Orientadores devem ajudar o aluno a passar por esses altos e baixos. É como uma relação entre pais e filhos. Devem fazê-los compreender que terão sucesso mesmo após uma experiência fracassada. Isso cria alunos ou filhos resilientes”, concluiu.
- inovação universitária