Estudo propõe reduzir impacto do transporte de cargas

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Data: 14/07/2015

Pesquisadores da Coppe/UFRJ apresentaram, nessa quinta-feira, 11/6, sugestões de boas práticas para a gestão sustentável do transporte de cargas. O conjunto de soluções apresentadas durante o III Megacity Logistics Workshop, no auditório da Coppe, permite a redução de impactos ambientais, como a diminuição de emissão de gases poluentes e do tempo gasto nessa modalidade de transporte.

Realizado pela equipe do Laboratório de Transporte de Cargas (LTC) da Coppe, em parceria com o Megacity Logistics Lab do Massachusets Institute of Technology (MIT), o estudo denominado “A Gestão Sustentável do Transporte de Cargas no Apoio à Prática da Logística Verde” analisou práticas bem-sucedidas em 30 metrópoles de 13 países e adaptou as melhores soluções para cidades com problemas similares.

Sob a coordenação do professor Márcio D’Agosto, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, pesquisadores revisaram, ao todo, 29 artigos publicados, entre 2004 e 2014, com dados de metrópoles como Nova Iorque, Boston, Madri, Tóquio, Cingapura, Cidade do México. Também fizeram pesquisa de campo e acompanharam rotas de distribuição de grandes empresas no Rio de Janeiro, Boston e Nova Iorque.

Economia de tempo e dinheiro

Priorizar rotas noturnas foi uma das recomendações feita às empresas. O exemplo apresentado foi pela empresa Grupo Pão de Açúcar, no Brasil, cujas rotas noturnas se mostraram 32% mais rápidas do que as diurnas. A opção pela rota noturna também reduziu o tempos de entrega da carga e de espera para descarga do caminhão em 47% e 78%, respectivamente, o tempo gasto em 5%, os custos da operação em 3% e a emissão de gases poluentes em 9%.

Outra proposta sugerida no estudo é o eco-driving, um treinamento para motoristas que possibilita a redução no consumo de combustíveis. “Ele leva a uma mudança de comportamento do motorista diante do tráfego, evitando acelerações e frenagens desnecessárias e mantendo velocidades médias moderadas. Segundo testes de campo já realizados pelo laboratório da Coppe junto à frota da Comlurb, o eco-driving pode resultar em uma redução de até 5% no consumo de energia no tráfego urbano e 15% no tráfego rodoviário com redução dos custos operacionais entre 2,5% a 5%”, afirma D´Agosto.

Segundo D’Agosto, é possível superar 63% dos desafios identificados utilizando sistemas de monitoramento, rastreamento e telemetria dos veículos. “Sugerimos a instalação de equipamentos e tecnologias que não são caras, a um custo médio de três a cinco mil reais, o que representa 1% do valor dos veículos de carga, que custam em média 200 a 300 mil reais. Ou seja, com pouco investimento você embute tecnologia capaz de resolver mais da metade dos problemas mapeados”, garante o professor.

Em parceria com o Massachussets Institute of Technology (MIT), a equipe da Coppe observou in loco como é feito o transporte de carga nas cidades de Nova York e Boston (EUA).

“Os americanos operam com caminhões de grande porte, enquanto no Rio de Janeiro há restrição de tamanho de veículo para operar na cidade. Em Boston, não há ajudantes, o próprio motorista descarrega com o auxílio de equipamentos: palheteira, elevador, etc. Apenas metade da capacidade do veículo é utilizada, no intuito de facilitar o manuseio da carga. O pavimento é ótimo, as calçadas são boas e há rampas de acesso”, relata D´Agosto. Segundo Cíntia, equipamentos motorizados para carga e descarga reduziria em 87% o tempo gasto no Rio de Janeiro, o que permitiria multiplicar por sete o número de entregas.

Problemas comuns e formas de superá-los

“Os problemas urbanos que tiram o sossego de cariocas e paulistanos não é uma exclusividade brasileira, e sim um traço comum de grandes cidades. Mas embora a cidade de Boston também sofra com engarrafamentos e metrô lotado em horário de pico, as condições para superar esses mesmos problemas são diferentes”, avalia o professor.

Dentre as recomendações de boas práticas voltadas ao poder público, estão a ampliação do uso da rede ferroviária no transporte de cargas em áreas urbanas; a taxação da emissão de CO2; e a adoção de faixas exclusivas para o transporte de cargas.

De acordo com a pesquisadora Cíntia Machado de Oliveira, que apresentou as conclusões do projeto, foram mapeados desafios comuns a megacidades do mundo todo. Boa parte deles relativos à administração pública, como a escassez de locais para carga e descarga, inadequação do pavimento; falta de prioridade ao transporte de carga; congestionamentos; restrição de circulação de caminhões.

Para as empresas e motoristas, o estudo sugere a otimização da ocupação dos veículos; a capacitação dos motoristas em eco-driving; a preferência pela entrega de cargas à noite; a instalação de equipamentos de monitoramento e telemetria; instalação de equipamentos de controle de emissão de gases poluentes; a transferência modal (entre trem e caminhão, ou caminhão e veículos mais leves, como motocicletas e bicicletas); modernização da frota, com veículos mais leves e com maior eficiência energética.

Durante o evento, o pesquisador do LTC, Lino Marujo, que realizou pós-doutorado no MIT durante a realização do estudo, defendeu a integração entre os modais rodoviário e ferroviário. Segundo Marujo, os sistemas de trens e BRT no Rio de Janeiro têm baixa utilização fora do horário de pico, o que também poderá ocorrer com o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). “Fiz a simulação para 58 estações. Mesmo o ramal mais ocupado, Deodoro, se torna ocioso a partir das 11h. Essa capacidade ociosa poderia ser revertida para o transporte de cargas, via sistema intermodal”, explica.

O projeto contou com financiamento do CNPq e o apoio das empresas: Correios, Coca Cola, Lafarge e Grupo Pão de Açúcar, que permitiram que os pesquisadores acompanhassem seus trajetos de transporte de mercadorias.