III Simpósio Nacional de Nanobiotecnologia encerra com premiação e perspectivas de fomentos

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Data: 11/11/2023

Durante três dias, a terceira edição do Simpósio Nacional de Nanobiotecnologia reuniu na Coppe/UFRJ estudantes e pesquisadores de todo o país promovendo palestras, fomentando iniciativas empreendedoras e discussões para o desenvolvimento e aprimoramento da área de Nanobiotecnologia, seus aspectos legais, de regulamentação e certificação. Entre os dias 8 e 10 de novembro, foram apresentados 85 trabalhos sobre aplicações tecnológicas em nanomedicina, nanomateriais, nanotoxicologia e nanocosméticos.

Sediado pelo Programa de Engenharia da Nanotecnologia da Coppe (PENt), a edição estava agendada para acontecer em 2020. Mas, devido à pandemia, só pode ser realizada neste ano, no auditório do Centro de Tecnologia 2 (CT2), na Cidade Universitária.

A abertura do evento, na quarta-feira (8), contou com a participação da pesquisadora da UFMG, Lidia Andrade, cofundadora do Grupo de Pesquisa em Nanobiomedicina da UFMG, que realizou a primeira edição do simpósio, em 2016. Segundo ela, a ideia do primeiro simpósio surgiu de uma percepção que seu grupo de pesquisa teve ao longo de pequenos seminários e workshops, os quais tinham o objetivo de promover uma interlocução entre as mais diversas áreas do conhecimento entre as Ciências da Vida e Biomédica e Ciências Exatas e da Terra. “Aqueles pequenos eventos tiveram uma aceitação muito boa, e revelaram uma demanda reprimida de especialistas buscando essa interdisciplinaridade para desenvolver aplicações biomédicas dos nanomateriais”, contou.

Medicina do futuro

O coordenador do Programa de Engenharia da Nanotecnologia (PENt), Tiago Balbino, fez palestra sobre nanomedicina, apresentando alguns exemplos de biossensores, de medicamentos e de métodos alternativos que estão sendo desenvolvidos na Coppe e em processo de patenteamento. Com estudos na área da microfluídica, ele explicou como essa tecnologia de manipulação de fluidos em microescala pode contribuir com as melhorias nos processos da medicina. Várias atividades feitas em laboratórios convencionais, em atividades consecutivas, poderão ser realizadas em dispositivos miniaturizados, nanoestruturados e de forma automatizada. “O que se vislumbra com a medicina do futuro é a utilização destes dispositivos portáteis para o diagnóstico médico”, disse. Chamados de laboratórios-em-chip, eles serão capazes de realizar múltiplas análises, cerca de 50 exames médicos, em 15 minutos, utilizando apenas uma gota de sangue. “Esses dispositivos já existem e a tendência é que tenham cada vez mais funcionalidade e possam fazer o diagnóstico de mais elementos biológicos”, explicou. Outros dispositivos, chamados de órgãos-em-chip, servirão para avaliação biológica aprimorada. “A ideia é que se possa tornar esses dispositivos dinâmicos com diferentes tipos celulares, como vemos nos modelos in vivo, e que possamos ter cada vez menos cobaias em laboratórios”.

Políticas Públicas
O público também foi apresentado à visão sistêmica e estratégica do Governo Federal para a Nanotecnologia. Em palestra no segundo dia do evento, o tecnologista sênior e coordenador-geral de tecnologias habilitadoras do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI), Felipe Bellucci, falou sobre a governança, a infraestrutura e as políticas públicas fomentadas para a nanotecnologia, como o Programa de Inovação em Grafeno (InovaGrafeno) e os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional: o PL nº 880, de 2019, instituindo o Marco Legal da Nanotecnologia e Materiais Avançados no Brasil; e o Projeto de Lei Complementar nº 23 de 2019, que inclui empresas de suporte, analises técnicas e tecnológicas, pesquisa e desenvolvimento de nanotecnologia entre aquelas que podem aderir ao regime tributário simplificado. “Estamos nesse momento implantando o Laboratório de Material Avançado e Minerais Estratégicos – GraNioTer (Grafeno, Nióbio e Terras raras) em Belo Horizonte (MG), cujo objetivo é criar um hub de conexões no ecossistema de materiais avançados e nanotecnologia no brasil e colaborar com a aproximação entre ecossistema e o mercado, com inauguração prevista para 2024”, falou.

Produção científica X desafios no ecossistema de inovação
Mediada pelo professor do PENt Sergio Camargo, a mesa-redonda realizada no último dia do evento promoveu debate sobre estruturação de empresas de base tecnológica; patentes acadêmicas e o impacto no ecossistema de inovação; o panorama de interação PDI-mercado sob a ótica de empresa de base tecnológica; e a importância das agências de fomento em PDI.

O debate contou com a participação da professora da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da UFRJ (FACC) e vice-coordenadora da Incubadora de Negócios de Impacto Social e Ambiental (Inyaga), Kelyane da Silva; do sócio fundador da Magtech Brasil, uma startup nascida na UFRJ, Marcel Martins; e do diretor de Tecnologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e professor do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe (PEN), Aquilino Senra.

Kelyane falou sobre o desafio de transferir o conhecimento científico em produção tecnológica para o mercado, para as atividades produtivas. A universidade produz o conhecimento científico e o transforma em patentes. Porém, um banco gigante de patentes permanece dentro da instituição, principalmente as relacionadas às deep techs, que precisam de financiamento de longo prazo. Segundo relatório da Boston Consulting Group, as deep techs abrangem três características: as soluções oferecem um grande impacto socioambiental; são tecnologias que levam muito tempo para atingir a maturidade do mercado; e requerem alto investimento de capital. As categorias são biotecnologia e nanotecnologia; inteligência artificial; eletrônica e fotônica, drones e robótica; materiais e blockchain. “O mercado precisa estar apto a financiar pesquisas de longo prazo, como as exigidas pelas deep techs. A UFRJ tem cerca de 800 tecnologias. Até 2019 só tínhamos 19 contratos de transferência de tecnologia. De 2020 a 2022 fizemos mais cinco, e há 30 em negociação. Pela quantidade, tínhamos que ter muito mais tecnologias sendo transferidas”, critica Kelyane.

Marcel trouxe o caso de sua empresa de base tecnológica e sua experiência com interação universidade-empresa. Fundada em 2017, a startup “se graduou” pela Incubadora de Empresas da Coppe e é especializada no desenvolvimento de nanopartículas multifuncionais para soluções biotecnológicas, principalmente em saúde. A empresa presta serviço de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e venda direta de produtos nanoestruturados.

O professor Aquilino citou alguns dos principais desafios que o Brasil precisa encarar para subir no Índice Global de Inovação (IGI). Na edição 2023 do relatório divulgado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual, o país aparece na 49º posição do ranking. O IGI avalia 132 países com base em 81 indicadores de inovação, que são agrupados em sete pilares principais. “Esta posição no ranking não é por falta de capacidade de produção de conhecimento científico, mas porque não atendemos a todos os critérios considerados”, disse Aquilino.

Segundo Senra, os principais desafios para a inovação no país que impactam na baixa posição do IGI são: o arcabouço legal; a burocracia; e o financiamento público e privado (subvenção para empresas privadas, capital de risco). “No caso do financiamento público, a legislação não é clara e objetiva em determinados pontos. Os órgãos de controle não têm entendimento de como funciona a inovação e desfavorecem projetos que não garantam o produto final. O Congresso Nacional precisa aprimorar o Plano Nacional de Inovação”, critica. Para o professor o país tem altíssima capacidade de produção científica, porém o investimento em capital humano é fundamental não somente para a pesquisa básica, mas também para o desenvolvimento do ambiente de inovação. “O ecossistema do Rio de Janeiro é um dos melhores do Brasil. Só precisa ter recurso, cooperação e articulação, que cabe ao governo fazer. Há uma perspectiva para os próximos quatros anos de investimento de mais de 80 bilhões de reais pelo Governo Federal. Se conseguirmos adequar o nosso arcabouço legal, vamos claramente subir no ranking do IGI”, disse.

Programas de fomento no Rio de Janeiro
O diretor da Faperj apresentou alguns dos programas de fomento da entidade para o desenvolvimento do ecossistema de inovação, são eles:

  • StartupRJ, que terá seu edital lançado em breve, para um investimento de R$ 12 milhões incluindo projetos de Nanotecnologia;
  • Doutor Empreendedor, que é voltado para apoiar quem já concluiu o doutorado, e deseja transformar em empresas e/ou negócios as inovações de sua tese, as suas descobertas científicas e tecnológicas. Suas duas primeiras edições resultaram em 43 startups e 30% delas estão faturando acima de 1 milhão de reais nas mais diversas áreas. Está com inscrições abertas para a sua quarta edição;
  • Pesquisador na Empresa, que promove a integração de mestres e doutores para executar projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) em Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs) ou Organizações da Sociedade Civil (OSCs);
  • InovaTrip, para linhas de crédito para projetos de empresas, contratados com as Instituições Científicas e de Inovação Tecnológica (ICTs). O edital de 45 milhões será lançado em 2024.

Premiação de trabalhos
Ao final do evento foram premiados os dois melhores trabalhos dentre os 85 que foram apresentados nos dois primeiros dias de evento. São eles:

  • “Nanossensor optofluídico de alta sensibilidade para detecção de microorganismos”, do
    estudante de doutorado do PENt, Ronan Pinto dos Santos;
  • “Potencial antitumoral de nanopartículas a base de prata biossintetizadas utilizando microrganismos contra linhagens celulares de câncer de mama”, da pesquisadora do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Biotecnologia (Inmetro) Verônica da Silva Ferreira.

A presidenta da comissão organizadora do simpósio e professora do PENt, Ariane Sousa-Batista, comemorou o sucesso do evento e elogiou os estudos apresentados. “A qualidade dos trabalhos dos participantes demonstra o quão promissoras têm sido as pesquisas já desenvolvidas por diferentes grupos do nosso país, mas ainda há muito a progredir até que, de fato, possamos ver as nossas pesquisas serem transformadas em produtos que melhorem a qualidade de vida da sociedade. Precisamos de investimento dos órgãos de fomento, do estabelecimento de parcerias com a indústria, apoiar o empreendedorismo e o estabelecimento da legislação da área” disse.