PESC nos anos 2000: “sulear” o olhar da pós-graduação
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 24/11/2020
Com citações a Paulo Freire e Gabriel García Marquez, o professor Henrique Cukierman conferiu um olhar engajado e humanístico a suas “Impressões sobre a década de 2000”, no quarto dia de atividades (12 de novembro) da Semana PESC 50 anos. Cukierman entrou no PESC em 2002, em uma seleção destinada a manter a linha de pesquisa Informática e Sociedade no Programa, a qual ressalta a importância de discutir os aspectos não técnicos da informática. Confira o evento na íntegra: Semana PESC 50 anos – dia 12/11
“Quando cheguei aqui para conviver com professores de tamanha envergadura intelectual como Ivan da Costa Marques, Nelson Maculan e Jayme Swarczviter, eu fiquei muito prosa… e me tornei colega de meus ex-professores como Celina Miraglia, Ana Regina da Rocha, Gerson Zaverucha”, derreteu-se Cukierman.
O professor relembrou quando fora chamado pelo coordenador do Programa na época, professor Guilherme Horta Travassos para coordenar o processo de seleção para mestrado e doutorado. “Isso me chamou atenção para uma das marcas fortes do Programa, a diversidade de suas linhas de pesquisa (nove), ou se quiser ser mais elegante, sua diversidade de culturas epistêmicas”.
“Outra coisa que pude observar foi a forte procura de sul-americanos, o que me fez pensar na concepção dominante de internacionalização que sempre me pareceu excessivamente voltado a olhar para cima, em vez de olhar para os lados, para América Latina e África. O PESC e seus estudantes sul-americanos me ensinaram logo a ‘sulear’ o meu olhar. Como gostava de dizer Paulo Freire, ‘o Sul deveria tentar superar sua dependência, atuando como sujeito de sua própria busca, ser um sujeito para si mesmo e não para o outro. Parar de ver no outro o seu norte e passar a conceder a si mesmo um sul’”, avaliou.
Cukierman também demonstrou seu orgulho em atuar na linha de pesquisa “Informática e Sociedade” e nas aulas de graduação do curso de Engenharia de Computação e Informação (ECI), como professor da disciplina Computador e Sociedade. “Nesta interação, indispensável entre graduação e pós-graduação, me descobri educador. Pois, como Tião Rocha, importante educador brasileiro, dizia: ‘professor ensina, educador aprende’”.
O professor destacou ainda a participação do PESC na criação da infraestrutura tecnológica para ensino à distância e na criação e oferta do curso de Tecnologia em Sistemas de Computação do consórcio Cederj. “A participação do PESC no consórcio de ensino à distância, sob liderança do professor Edmundo Souza e Silva e do Laboratório de Modelagem, Análise e Desenvolvimento de Redes e Sistemas de Computação (Land) me fez perceber o quão longe estamos da universalização do acesso. Isso me fez refletir sobre o que disse Gabriel García Marquez no seu discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura: ‘A interpretação das nossas realidades por esquemas alheios só contribui para nos fazer cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários’”, rememorou.
“Na linha Informática e Sociedade, propomos um olhar sociotécnico, para saber se as novas tecnologias influenciam e são influenciadas pela coesão social. Nós vivemos um momento como universidade sitiada, acusados de fazer balbúrdia e plantar maconha. É o momento de firmarmos o compromisso com um suleamento do olhar e assim poderemos contribuir para o desenvolvimento social do nosso país”, concluiu Cukierman.
Aprendendo com as qualidades dos professores
O professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e ex-aluno do PESC, Fábio Protti, contou a sua experiência como aluno do Programa, destacando que o convívio com pesquisadores de excelência permite progredir tendo os outros como inspiração.
De acordo com Protti, a primeira coisa que vem à mente é a tradição, a excelência, o prestígio de fazer parte do PESC. “Temos a ideia clara da importância do Programa, assim que somos aceitos para o mestrado ou doutorado. É um orgulho sadio. Sensação de pertença a um lugar importante onde podemos crescer. Neste sentido, juntar-se aos bons é voltar seu olhar para o aprendizado, tentar crescer com a experiência que essas pessoas têm”, avaliou.
Protti fez vários elogios ao corpo docente do Programa, mas destacou cinco de seus ex-professores por cinco qualidades específicas que marcaram sua memória de estudante. “O professor Jayme Szwarcfiter, meu orientador, possui a virtude da liderança, o dom de congregar as pessoas. Sua capacidade de unir as pessoas em torno de um projeto, de um objetivo comum. Sempre propositivo, com elegância”.
“Na professora Celina Miraglia de Figueiredo, sobressai a capacidade de organização. Tem na cabeça todos os prazos, atividades, pessoas a contatar, escalonamento necessário. É impressionante. Graças a sua capacidade, muita coisa se tornou realidade. Faz um trabalho árduo que trouxe muitas coisas à comunidade”.
“A professora Sulamita Klein me abriu as portas para orientar alunos quando concluí o doutorado. Ela abriu as portas para temas científicos que lhe eram caros, que ela poderia reservar pra si. Ela compartilhou comigo aqueles temas e me abriu as portas para muitas parcerias. Ela tem a qualidade da colaboratividade”.
“O professor Felipe França me colocou numa imersão de algoritmos distribuídos. Ele abria as mentes dos alunos e nos colocava problemas novos. Ele tem a ousadia de sair de sua área de segurança e pesquisar coisas novas. Uma pessoa que busca soluções com criatividade”.
Por fim, Fábio Protti destacou aquela que via como qualidade marcante do professor Valmir Barbosa. “Foi um encantamento de trabalhar com ele, eu aprendi muito. Aprendi a ser objetivo. Ele apontava o caminho a seguir. Quando não sabia como arrematar o texto, ele vinha com sua concisão. Saía das reuniões aliviado, com minhas dúvidas sanadas por sua objetividade”.
Confira a cobertura dos outros quatro dias da Semana PESC 50 anos:
2º dia – PESC nos anos 1980: primeiro supercomputador brasileiro e início da parceria com o Cern
5º dia – Semana PESC: encerramento é marcado por destaques da última década e retrospectiva