Pesquisa da Coppe revela que cariocas desconhecem BRT
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 21/09/2011
Pesquisa exploratória realizada na Coppe/UFRJ indica que 84% da população carioca desconhecem os quatro projetos de BRTs (Bus Rapíd Transit) que deverão ser implantados no Rio como parte das obras viárias relacionadas à Copa do Mundo e às Olimpíadas, e que 76% não sabem o que significam e como funcionam tais corredores exclusivos para ônibus. Durante quatro dias, um aluno de doutorado no Programa de Engenharia de Transportes da Coppe, Richard William Campos Alexandre, entrevistou na Barra da Tijuca e bairros adjacentes 140 pessoas, incluindo motoristas e usuários de ônibus, taxistas e proprietários de automóvel particular. O objetivo foi justamente verificar o grau de conhecimento dos cariocas sobre as novas vias. Os resultados indicam a necessidade de uma campanha informativa mais intensa.
Durante a pesquisa, realizada sob orientação do professor Ronaldo Balassiano, também do Programa de Engenharia de Transportes, foi constatado que 66% dos donos de automóveis não deixariam seus veículo em casa para se deslocar usando os BRTs. Nem a informação de que o sistema funciona como uma espécie de metrô sobre rodas, com plataformas de embarque, e que todos os ônibus terão ar-condicionado e televisão a bordo os fez mudar de ideia. Atrás apenas dos motoristas de táxis, os usuários de automóveis estão entre os que demonstraram maior conhecimento, com 23% declarando saber o que é um BRT e 26% dizendo conhecer os corredores expressos projetados para a Copa e as Olimpíadas.
De acordo com o levantamento, 29% dos motoristas de táxi sabem o que são os BRTs. No geral, eles têm opinião bem parecida com a dos proprietários de automóveis particulares, pois somente 20% disseram que usariam os corredores expressos quando não estivessem trabalhando. Mais de 70% desconhecem os corredores que estão sendo projetados para a cidade, como parte da infraestrutura viária para os eventos esportivos de 2014 e 2016. Os pesquisadores também constataram que 74% dos taxistas não possuem outro veículo e, talvez por isso, a grande maioria usa o táxi para se locomover mesmo quando está de folga e não quer abrir mão do veículo. Na ponta oposta estão os usuários de ônibus, com 91% dizendo que usariam os corredores, apesar de 80% não saberem como funciona um BRT.
O professor Ronaldo Balassiano explica que o Bus Rapid Transit (BRT) é um sistema de transporte por ônibus que opera em vias próprias e segregadas de forma rápida, segura e confortável, com estações para embarque e desembarque. A sigla pode ser traduzida como Sistema de Transporte Rápido, Sistema Rápido de Ônibus, ou ainda Sistema Expresso de Ônibus. Para utilizar o serviço, os usuários devem comprar o bilhete eletrônico nas cabines das próprias estações ou usar cartões como o RioCard. “O BRT é um sistema de transporte de baixo custo e de rápida implementação, que é integrado a outros de menor capacidade. É uma das soluções mais criativas para promover a mobilidade nos centros urbanos”, afirma o professor da Coppe.
Das quatro vias de BRTs projetadas, duas já estão com obras em andamento. A primeira é a TransCarioca, com 39 quilômetros de extensão e 45 estações, que ligará a Barra da Tijuca ao aeroporto do Galeão, passando pela Cidade Universitária. Poderá transportar 400 mil passageiros por dia. A segunda é a TransOeste, entre a Barra da Tijuca e Santa Cruz, com 56 km, 53 estações e previsão de 200 mil usuários/dia. As outras duas são a TransOlímpica, ligando o Recreio a Deodoro, e a TransBrasil, entre o Centro e Deodoro, passando pela Avenida Brasil.
População feminina
Um fato que chamou a atenção dos pesquisadores é que 74% dos proprietários de carros entrevistados são do sexo feminino e, destes, 90% declararam ter nível superior. “Apesar de terem maior acesso às informações e maior grau de instrução do que os demais entrevistados, infelizmente esses usuários não querem mudar o seu modo de locomoção para determinados lugares. O sistema de transporte público por ônibus é mal visto por eles. Alegam que em seus veículos têm mais segurança, conforto, privacidade e rapidez. Reconhecem que há mais carros nas ruas, congestionamentos nas vias e sabem da poluição ambiental, mas não desejam mudar o modo como se deslocam”, lamenta Richard.
O aluno da Coppe lembra que o tráfego de veículos no Rio está cada vez mais lento e caótico, a ponto de a Avenida Rio Branco registrar uma velocidade média de apenas 14,8 km/h no horário de pico, conforme estudo do professor Paulo Cezar Ribeiro, também do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe. Em defesa do BRT, ele lembra que “o corredor é exclusivo, e por isso os ônibus deverão circular a uma velocidade média maior”.
Ainda de acordo com a pesquisa, apesar de trabalharem na área de transporte público e pertencerem ao grupo que vai dirigir os veículos do novo sistema, mais de 90% dos motoristas de ônibus não conhecem os projetos de BRT para a cidade do Rio de Janeiro e quase 80% não sabem exatamente o que significam. Mas, após algumas explicações, 74% disseram estar dispostos a usar os corredores.
Para Balassiano a denominação BRT não é suficientemente explícita para os leigos e cidadãos comuns. Por isso, a exemplo dos taxistas e das pessoas que usam veículo particular nas viagens diárias, nem mesmo os usuários e motoristas de transporte coletivo estão bem esclarecidos sobre o funcionamento e as características dos corredores expressos. “É preciso um trabalho de longo prazo para a conscientização. Poderão ser necessários mais de dez anos para que os proprietários de automóveis deixem seus veículos e passem a utilizar os BRTs. Os resultados da nossa pesquisa mostram que as autoridades precisam adotar estratégias de marketing e comunicação para esclarecer a população sobre os projetos de transportes para a cidade”, defende o professor da Coppe.
Mais mobilidade, menos poluição
Balassiano diz que as vias do Rio de Janeiro não comportam mais o fluxo de veículos que são lançados hoje no mercado. Por isso, é fundamental adotar medidas, como a implantação de BRTs, para ampliar a utilização do transporte coletivo e evitar que um grande número de carros particulares circule ao mesmo tempo pelas principais ruas da cidade.
O professor lembra que um sistema similar ao BRT foi implantado em Curitiba 46 anos atrás, com a simples lógica de priorizar o transporte coletivo, por meio de ônibus, nos principais corredores de tráfego, e de promover sua integração tanto com sistemas de transporte de menor capacidade, os chamados alimentadores, quanto com o processo de planejamento urbano. “O resultado mostrou ao Brasil e ao mundo a possibilidade de se implantar um sistema de transporte público de qualidade a custos relativamente não muito elevados e associado a um ambiente urbano mais humano”, elogia.
Outro sistema de transporte eficiente para as áreas urbanas é o de veículos leves sobre trilho (VLT). Mas, de acordo com o professor da Coppe, seu custo de implantação é o dobro de um BRT e a capacidade de transportar passageiros não é muito maior. Balassiano explica que os VLTs podem transportar 25 mil pessoas por hora num mesmo sentido, contra 20 mil de um sistema de BRT. “Além disso, o tempo de implantação de um BRT chega a ser 2/3 menor do que o do metrô e a metade do necessário para se construir um sistema de VLT ou de bondes modernos”, afirma o professor.
A possibilidade de utilização de combustíveis alternativos, como gás natural, hidrogênio e biocombustíveis, é outra grande vantagem dos BRTs, de acordo com Balassiano. “Além disso, os ônibus bem regulados e operados de forma correta consomem menos energia que a maioria de outros meios de transporte e, consequentemente, poluem menos”, conclui o professor da Coppe.