Pesquisadores avaliam a viabilidade das metas climáticas em face das restrições institucionais
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 20/08/2024
Pesquisadores da Coppe participaram de estudo internacional sobre a viabilidade das metas climáticas da comunidade internacional, levando em conta as restrições que existem nas políticas públicas, e que variam de país para país. As conclusões do estudo foram publicadas pela revista Nature Climate Change na segunda-feira, 12 de agosto, no artigo Feasibility of peak temperature targets in light of institutional constraints.
Participaram da colaboração científica os professores Roberto Schaeffer e Pedro Rochedo (licenciado), e o pesquisador Luiz Bernardo Baptista, todos do Programa de Planejamento Energético (PPE) da Coppe.
A despeito da crescente conscientização acerca do aquecimento global e das mudanças climáticas, as emissões globais anuais de CO2 aumentaram entre 2020 e 2023, o que deixa em xeque a capacidade de limitar o aquecimento a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, até 2100. O estudo compara cenários custo-efetivos a cenários alternativos com restrições e facilitadores, e revela que as trajetórias de mitigação mais ambiciosas, com informações climáticas atualizadas, ainda conseguem limitar o aquecimento máximo a menos de 1,6 °C (chamado de “baixo overshoot” – elevação de temperatura acima da meta, a ser compensada depois com maior esforço de descarbonização) com cerca de 50% de probabilidade.
No entanto, quando as restrições de viabilidade institucional são consideradas, essa probabilidade diminui significativamente para entre 5% e 45%. Sem melhorias significativas na capacidade institucional, particularmente em países com baixa eficácia governamental, a probabilidade de ultrapassar o limite de 1,5 °C aumenta. Os resultados sugerem que é necessário aprimorar a governança e os marcos regulatórios a fim de facilitar reduções rápidas de emissões.
Segundo o professor Roberto Schaeffer, o artigo trouxe conclusões do projeto Engage (acrônimo para Exploring National and Global Actions to reduce Greenhouse gas Emissions) liderado pelo International Institute for Applied Systems Analysis (IIASA), finalizado no ano passado.
Foram utilizados oito modelos de avaliação integrada globais, dentre eles o Coffee, desenvolvido pelo laboratório Cenergia, da Coppe, para a comparação de cenários. “Na maior parte dos cenários, os nossos inclusive, você roda um modelo com ambição climática, uma certa quantidade de emissão total (de CO2), a mínimo custo. Então a mínimo custo é o quê? Sempre o custo efetivo. A novidade deste paper é que quando você fala em mínimo custo, você parte do pressuposto que não há nenhuma outra barreira para aquilo acontecer, o que nem sempre é razoável. Neste paper, tenta-se, talvez pela primeira vez, incorporar restrições institucionais para se desenvolver cenários de mitigação climática mais realistas”, contextualiza Schaeffer, um dos coordenadores do Centro de Economia Energética e Ambiental (Cenergia), da Coppe.
Um chamado à realidade
O estudo traz indicadores de governança específicos de cada região para mostrar a capacidade de implementar políticas de mitigação climática de forma eficaz. As ferramentas desenvolvidas para explorar a viabilidade desses caminhos de descarbonização foram disponibilizadas para os tomadores de decisão em um Resumo para Formuladores de Políticas.
“Do ponto de vista da justiça internacional, isso também significa que os países afluentes de hoje, como os EUA e aqueles da União Europeia, não apenas precisam atingir suas metas de emissões líquidas zero, mas precisam pensar em colaborações multilaterais para melhorar a governança e a capacidade institucional em regiões vulneráveis”, acrescenta o coautor do estudo e diretor do Programa de Energia, Clima e Meio Ambiente do IIASA, Keywan Riahi.
“Não adianta você falar: a solução mais barata para o Brasil, de fato, é o etanol, ou o carro elétrico. Se você tem um lobby da indústria que não quer deixar que o carro elétrico penetre e com isso pressionar o Congresso Nacional para taxar a importação desses tipos de carro, não adianta o modelo indicar que a eletrificação da frota de automóveis é alternativa de menor custo para o país, pois talvez ela nunca seja implementada. Então a novidade do trabalho: tentar sair do tecnicismo puro e tentar incorporar, também, outras dimensões ao problema”.
“Nesse caso, a verdadeira solução para o problema talvez seja sair de um modelo ótimo” e ir para um modelo ´ótimo dentro do possível’. A novidade seria confrontar resultados mais realistas do que aqueles apontados por uma análise meramente técnica, que diz que faz sentido fazer isso ou aquilo na Índia e no Brasil, mas sem estar olhando a governança por trás e quão razoável isso seria. A ideia é baixar um pouco a bola, nossa inclusive, de que uma coisa é o que modelo apresenta como solução ótima e o que mundo é capaz de fazer, uma vez que o mundo não é ótimo”, conclui o professor Roberto Schaeffer.
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