Pinguelli, cidadão do mundo

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Data: 24/06/2022

A Coppe/UFRJ deu início na última terça-feira, 21 de junho, à Pinguelli, Cidadão do Mundo, uma série de homenagens ao saudoso ex-diretor da instituição, professor Luiz Pinguelli Rosa, falecido em março, aos 80 anos. O evento contou com depoimentos de colegas da universidade, de entidades do setor de ciência, do setor hidrelétrico e também de sua família. Após a cerimônia no auditório da Coppe, foi descerrada uma placa em sua memória, na entrada do Bloco I-2000 do Centro de Tecnologia da UFRJ, o maior complexo de laboratórios da América Latina, inaugurado em 1998, em seu segundo mandato como diretor da Coppe. O Bloco agora será renomeado como Complexo de Ensino e Pesquisa de Engenharia Luiz Pinguelli Rosa.

O evento contou com a participação da reitora da UFRJ, professora Denise Pires; do diretor da Coppe, professor Romildo Toledo; da presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), professora Helena Nader; do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), professor Renato Janine Ribeiro; do ex-diretor geral de Itaipu Binacional, Jorge Samek; do diretor-executivo da Fundação Coppetec e presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies), Fernando Peregrino; e dos filhos de Pinguelli, Luiz Fernando e Luiz Eduardo.

Na opinião da professora Denise Pires, pode-se ter a dimensão do homem, cientista e político que foi Luiz Pinguelli Rosa pelo tamanho e abrangência da obra do professor que escreveu sobre tecnociências e humanidades, sobre uso de biomassa, e antecipou a possibilidade de o país passar pelo apagão (ocorrido em 2001).

“Pinguelli é nossa inspiração e também nossa indignação”, afirmou a reitora.

A reitora destacou que as homenagens a Pinguelli ocorrem em um momento grave da história do país, no qual as instituições de Estado sofrem um ataque frontal. “Pinguelli era muito crítico a tudo isso, pois era um homem da institucionalidade e da luta coletiva. Lutou muito na nossa universidade e fora dela. Em 2011, estive com ele, Segen Estefen e Leda Castilho, em Brasília, para lutarmos por mudanças na legislação sobre o magistério superior. Pelo número de horas dedicados a consultoria e outras questões. Na trincheira a favor da universidade pública e da carreira docente com dedicação exclusiva, com ensino, pesquisa e extensão, levando todas as atividades da universidade para perto da sociedade para que haja a efetiva transformação”.

“Pinguelli é a nossa força, a nossa vontade de lutar e de vencer. É nossa inspiração, também é e continuará sendo a nossa indignação. Luiz Pinguelli Rosa, presente!”, exortou a reitora, professora Denise Pires.

Segundo o professor Romildo Toledo, Pinguelli foi uma pessoa multifacetada, que transcendeu em muito o trabalho acadêmico. “Ele teve uma inserção na sociedade que não foi apenas pessoal, mas também levou a Coppe a ocupar um protagonismo na discussão dos problemas nacionais. É gozado que ele queria colocar o seu livro como sendo memórias de um derrotado. Imagine alguém que alcançou o sucesso acadêmico e administrativo dele, pudesse se ver como derrotado”.

“Ele ajudou a criar e foi o primeiro presidente da Adufrj (seção sindical dos docentes da UFRJ) e do Andes (sindicato nacional dos docentes), ainda na ditadura militar. Na Coppe, participou da formação e criação do Programa de Engenharia Nuclear (PEN) e do Programa de Planejamento Energético (PPE), e como diretor, da criação do Programa de Engenharia de Nanotecnologia (PENt). Trouxe a discussão da energia, mudanças climáticas e meio ambiente para formação de pessoal e desenvolvimento de pesquisa. Além disso, ele acreditava, como Coimbra, na força da inserção da universidade na sociedade, e fortaleceu a Coppetec e o modo de atuação que se tornou modelo no país. Foi uma grande alegria ter tido o Pinguelli em nossas vidas. Institucionalmente, o legado ficará para sempre”, destacou professor Romildo.

“O que avançamos em dois anos, não teve igual”, destacou Jorge Samek

O ex-diretor da Itaipu Binacional, Jorge Miguel Samek, ressaltou a capacidade de Pinguelli como gestor. Samek dirigiu Itaipu de 2003 a 2017 e contou com o ex-professor da Coppe no Conselho de Administração da empresa por mais de uma década. “Todo mundo lembra que em 2001 o Brasil passou pela sua maior crise energética e quem recuperou esse processo tem nome e sobrenome: Luiz Pinguelli Rosa. Todo mês tínhamos reunião com pauta, meta e acompanhamento do processo. O que avançamos em dois anos, não teve igual em todo o período posterior. Desde a usina de Tucuruí, não se tinha empreendimento hidrelétrico no país. A retomada se deu na gestão do Pinguelli à frente da Eletrobras”.

“Aquele apagão de 2001 não teria acontecido se tivéssemos um sistema interligado. Pinguelli trabalhou pesadamente pela interligação do sistema. Dali surgiu o Proinfra. Não tínhamos quase nada de energia solar ou eólica. E o projeto que ele mais gostava, o Luz para Todos, ele não admitia com o potencial energético que tínhamos e tanto conhecimento de ciência e tecnologia, termos mais de 20 milhões de pessoas sem acesso à luz”, relatou.

Samek fez questão de expressar gratidão pela amizade e aprendizado ao longa da frutífera convivência. “Nesses 11 anos que trabalhamos juntos, ele me cobrava e me ensinava como conciliar produção de energia com desenvolvimento com cuidado ambiental e responsabilidade social. E nós (Itaipu Binacional) fomos ganhando prêmios. Implantamos por orientação do Pinguelli os 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS). Cuidamos dos ribeirinhos, dos índios, da água, da natureza”.

Fernando Peregrino comparou Pinguelli ao antropólogo, sociólogo e historiador Darcy Ribeiro, que também via a si mesmo como alguém derrotado nas muitas batalhas políticas que travou. “Darcy Ribeiro também quando era homenageado dizia não entender pois, ele defendera os índios e fora derrotado, defendera o ensino público e fora derrotado. Ele dizia que apesar disso preferia ficar ao lado dos derrotados do que ao lado daqueles que venceram. Pinguelli é isso. Lutou contra a privatização da Vale, contra a privatização do setor elétrico, e contra esse desmonte que vivemos na Ciência e Tecnologia”, destacou o diretor-executivo da Fundação Coppetec.

Professor, gestor, humanista e líder

Professor Erasmo Ferreira

O professor Erasmo Ferreira, do Instituto de Física da UFRJ, orientador de Pinguelli em seu doutorado, realizado na PUC-Rio, que destacou a liderança “magnífica, inconteste” de um físico à frente de uma instituição de Engenharia. “Essa universidade deve permitir essa interdisciplinaridade, essa passagem de um setor a outro para que ela desenvolva valores que possam ser freados por roteiros específicos, células curriculares. É preciso que tenhamos cada vez mais abertura disciplinar para que se torne uma universidade em permanente inovação, para fora e para si mesma”, defendeu Erasmo.

O presidente da SBPC, professor Renato Janine Ribeiro, lembrou que conheceu Pinguelli em 1997, quando ambos foram receber uma homenagem do governo federal. “Estava alguém lá uma pessoa com um cartaz repudiando os cortes na ciência e alienação de patrimônio público. Esta pessoa era Luiz Pinguelli Rosa. Foi uma situação muito especial. Estava ali não apenas o cientista, mas o homem público. Não apenas o pesquisador, mas o humanista, a pessoa preocupada com o futuro do país”.

Na opinião da presidente da ABC, professora Helena Nader, Pinguelli é um ícone, que “só trouxe orgulho para a comunidade científica e para a sociedade brasileira. Ele não era um cidadão comum, mas pensava no cidadão comum. Cada ato era pensando nesse Brasil que deveria ser cada vez maior e melhor. Tinha uma veemência e clareza de ideias que poucas pessoas tinham. E mais do que isso, retidão de caráter”.

Um amor correspondido

Durante o evento, o presidente do Coep, André Spitz, e a família de Pinguelli anunciaram o lançamento de um site para consolidação e preservação do acervo do ex-diretor da Coppe. Segundo Luiz Eduardo Rosa, a iniciativa tem objetivo de consolidar de forma participativa e colaborativa seu acervo e dar continuidade às suas lutas. “Meu pai foi um valioso e leal companheiro de luta de muitos de vocês. O site contará com livros, artigos escritos por ele, artigos escritos sobre ele, reportagens, estudos, documentos, vídeos. O site ainda está em construção, mas deverá entrar no ar em julho, no endereço www.luizpinguellirosa.org.br. Todos poderão contribuir”.

Segundo André Spitz, “cada um de nós tem uma história com Pinguelli e essas histórias são muito importantes. Quando a gente diz ‘Pinguelli vive’, é importante que a gente faça com que ele continue vivendo, por meio das memórias de cada um de nós. Ele precisa continuar sendo uma referência para o país. A gente precisa continuar suas lutas. Acho que essa é a maior homenagem que poderíamos fazer a ele”.

“A ideia desse site é fazer Pinguelli viver. Por meio das histórias de todos nós. Cada um de nós tem histórias incríveis sobre ele. Era um grande articulador, grande líder. Foi capaz de articular muita gente em torno de si. As pessoas acreditavam em Pinguelli. Ele era grande, sobretudo porque soube criar em torno de si uma rede de pessoas que apoiaram suas lutas. Não podemos deixar essa rede morrer. Precisamos manter vivo o acervo e inspirar as pessoas mais jovens a participarem dessas lutas”, convocou Spitz.

Como destacou o filho Luiz Fernando, Pinguelli tinha um amor impressionante pela Coppe. Um amor correspondido. “Ele está aqui em cada sala, cada laboratório, dentro de cada professor, aluno e servidor. Todos vão carregar um pouco dele para sempre, mesmo que não saibam”.

Ao final, foi descerrada uma placa na entrada do Bloco I-2000, que abriga o maior conjunto de laboratórios de Engenharia da América Latina. O Bloco passará a se chamar Complexo de Ensino e Pesquisa de Engenharia Luiz Pinguelli Rosa.

As homenagens estão sendo organizadas por uma comissão constituída pelos professores da Coppe Romildo Toledo, Aquilino Senra e Emílio La Rovere; pelo diretor-executivo da Fundação Coppetec e presidente do Confies, Fernando Peregrino; por André Spitz, do Comitê de Entidades Públicas no Combate à Fome e pela Vida (Coep); e Beatriz Pinto, da Embrapii-Coppe. Também participam o Fórum de Ciência e Cultura (FCC/UFRJ), a Adufrj, a ABC, a SBPC, o Clube de Engenharia, o Instituto Ilumina e o Museu Nacional.