Professores analisam a matriz energética brasileira na Reunião Magna da ABC
Planeta COPPE / Engenharia Nuclear / Notícias
Data: 12/05/2016
O debate sobre energia, dia 6 de maio, marcou a manhã do último dia de atividades da programação que celebrou o centenário da Academia Brasileira de Ciências (ABC), de 4 a 6 de maio, no Museu do Amanhã. Na sessão coordenada pelo diretor da Coppe/UFRJ, professor Edson Watanabe, especialistas analisaram o cenário atual da geração de energia no país e apontaram as perspectivas de futuro, sobretudo para as energias renováveis.
Participaram da sessão Energia o professor Aquilino Senra, do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, que também é professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe, o professor Fernando Antunes, coordenador do Grupo de Processamento de Energia e Controle da Universidade Federal do Ceará, e Elbia Gannoun, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
Os palestrantes fizeram uma análise positiva do setor energético, tendo em vista a diversificação e ampliação de investimentos em energias renováveis, com perspectivas de médio e longo prazo, que acreditam ser capazes de suprir a demanda por energia à medida que o país recupere o crescimento econômico.
Consumo de energia poderá dobrar até 2030
O consumo de energia elétrica no país deve dobrar até 2030, de acordo com estudos da EPE. Mas segundo Tolmasquim, esse dado não é preocupante porque o consumo de energia per capita brasileiro é considerado baixo, inferior ao de outros países emergentes como Chile, Argentina e África do Sul, e muito inferior ao de países desenvolvidos. Além disso, o Brasil se destaca internacionalmente pela renovabilidade de sua matriz, cujo percentual é 40%, quando a média mundial é 13%.
“O Brasil tem toda condição de manter-se como uma das matrizes mais limpas do mundo. No que diz respeito à geração de energia elétrica, em 2014, 78% da nossa matriz foi gerada por fontes renováveis. E esse não foi o nosso melhor resultado, pois tivemos um ano seco. Em 2012, por exemplo, foi 84%. O país pode seguir tendo uma matriz muito renovável, pois temos recursos para tal”, avalia o presidente da EPE.
Tolmaquim também destacou que o país usa apenas 34% do potencial hidrelétrico, mas que só é viável chegar a 50%, tendo em vista que a maior parte desse potencial está no bioma amazônico, e o seu uso requer um grande custo socioambiental. Além disso, destaca o professor, o Brasil dispõe de um enorme potencial bioenergético. “Em 2015 foram gerados 10.378 MW de energia com biomassa, o que equivale a uma usina de Belo Monte. Não é uma questão marginal. Temos 220 milhões de hectares de pastagens usadas de maneira extensiva. Não precisamos desmatar para produzir etanol. É uma inverdade que a cana-de-açúcar ameace a Amazônia ou compita com a produção de gêneros alimentícios”.
O professor Watanabe, que durante suas intervenções ressaltou a importância do uso eficiente de energia, concordou que apesar da necessidade das pessoas repensarem hábitos de consumo para diminuir o impacto ambiental de seus atos, em termos comparativos, o consumo do brasileiro é relativamente. “Confrontando esses índices com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), percebe-se que há uma correlação: países com melhor qualidade de vida consomem mais energia. No entanto, a Holanda é a 5ª nação com melhor IDH, mas está abaixo da 30ª posição em consumo per capita. É uma exceção, mas é também um exemplo a ser seguido, de desenvolvimento com eficiência energética”, avaliou o diretor da Coppe.
Bons ventos para o desenvolvimento humano
De acordo com presidente da ABEEólica, Elbia Gannoun, a instalação de parques eólicos está produzindo um efeito socioeconômico muito importante nas áreas semiáridas do Nordeste. “A instalação de parques eólicos não desaloja projetos agropecuários e o arrendamento de terras aumenta a renda de pequenos proprietários por 20 anos, fixando a população ao campo, com aumento na sua qualidade de vida. Estamos testemunhando inclusive o aumento no IDH de pequenos municípios no semiárido nordestino”, explicou a presidente.
“Em 2014, nós éramos o 10º país do mundo em geração de energia eólica, mas fomos o 4º que mais contratou novos projetos naquele ano (2,7 GW), o que sinaliza o potencial do setor”, relatou Elbia. O Brasil foi considerado o 2º país mais atrativo para investimentos em energias renováveis, de acordo com o Climatescope 2015, que avaliou informações de 55 países. Segundo Elbia, um dos fatores que justificam esta avaliação é o bem-sucedido modelo de contrato via leilões de energia elétrica, promovidos pelo Ministério de Minas e Energia.
De acordo com Elbia, o setor de energia eólica gera 40 mil novos postos de trabalho por ano, com 2GW de energia sendo acrescidos anualmente ao sistema. “A estimativa é que o potencial onshore (em terra firme) é 500GW, sobretudo no Nordeste – onde há o melhor vento do mundo para geração de energia, de acordo com especialistas dinamarqueses – e na região Sul”, informa a presidente da Associação.
Energia para o futuro
O professor Fernando Antunes, da Universidade Federal do Ceará (UFC), por sua vez, indicou que a energia solar, embora atenda a uma fração pequena da demanda global por energia, tem uma perspectiva promissora, à medida que a tecnologia evolui e os custos de geração se reduzem. “Espera-se uma redução de até 75% nos custos de produção, o que deve tornar o mercado mais atraente e competitivo”, relatou Antunes.
De acordo com o professor, o Sol envia 26,100 TW a cada segundo para a Terra, o que equivale a toda energia gerada no planeta em 2014. “Com a tecnologia atualmente disponível, toda a energia elétrica que o país consome poderia ser gerada com a instalação de 2.653 km² de painéis fotovoltaicos. Caso utilizássemos os espelhos d´água dos reservatórios de seis grandes hidrelétricas (Balbina, Tucuruí, Sobradinho, Serra da Mesa, Furnas e Itaipu), seria possível instalar 14.058 km² de painéis”, explicou.
Antunes destacou ainda a formulação pelo governo federal do Programa de Desenvolvimento da Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD) – que estima 100 bilhões de reais em investimentos até 2030, o que traria um grande incentivo aos projetos de geração de energia solar – mas, criticou o peso dos tributos para o setor energético. “É o paradoxo brasileiro: a matriz hidráulica faz com que tenhamos os menos custos de produção de energia, mas os impostos fazem com que tenhamos os maiores preços ao consumidor”, lamentou o professor.
Em sua apresentação, o professor Aquilino Senra, do Programa de Engenharia Nuclear da Coppe, ressaltou os aspectos positivos da tecnologia nuclear em suas múltiplas aplicações- na medicina, sendo o Brasil um grande importador de material básico para radiofármacos; na agricultura, na dessalinização de água, na produção de hidrogênio. “Sobretudo na geração de energia, onde dá garantia plena ao sistema por sua geração contínua, com baixa emissão de gases causadores do efeito estufa e alta densidade energética”, afirmou.
Aquilino destacou ainda que apenas três países (Estados Unidos, Rússia e Brasil) têm grandes reservas de urânio, tecnologia do ciclo completo de geração de energia e fazem uso dessa tecnologia. “As duas principais reservas de urânio do país, em Caetité e Santa Quitéria, são capazes de produzir 187 mil toneladas do minério, além de fostato, insumo importante para a agricultura e que o Brasil importa mais da metade da sua demanda. Essa produção é 87% superior a toda a demanda de sete usinas nucleares (número previsto pelo governo) ao longo de toda sua vida útil”, informou.