RNP prestou homenagem a professores da Coppe pela contribuição ao estabelecimento da internet no Brasil
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Engenharia Nuclear / Notícias
Data: 20/12/2017
Como parte das comemorações dos 25 anos da Internet no Brasil, a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) concedeu o Diploma de Construtores da Internet no Brasil aos professores da Coppe/UFRJ Edmundo de Souza e Silva, Luis Felipe Magalhães de Moraes, ambos do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação, e Zieli Dutra, do Programa de Engenharia Nuclear. Também recebeu o diploma o diretor de Orçamento e Controle da Coppe, Fernando Peregrino, em função de sua atuação quando esteve à frente da presidência da Faperj. A cerimônia foi realizada dia 06 de novembro, na sede da RNP.
A homenagem foi um reconhecimento a professores, acadêmicos e representantes de instituições que contribuíram para a implantação da WEB no Brasil, entre 1992 e 1993. A proximidade do professor Edmundo com pesquisadores da universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), onde cursou seu doutorado, propiciou a primeira conexão entre uma instituição brasileira, a UFRJ, e outra no exterior. “Essa foi a porta de entrada do Brasil na Internet, cujo berço mundial foi UCLA, a universidade californiana, em 1969. Nas fases de negociação trabalhei em conjunto com o professor Paulo Aguiar, do Institutode Matemática da UFRJ. Internet significa cooperação e tudo que estamos revivendo aqui hoje é um exemplo de um trabalho em equipe que envolver diversas pessoas”, explicou Edmundo, premiado na Categoria Nacional.
Os professores Luis Felipe e Zieli Dutra e o engenheiro Fernando Peregrino foram homenageados na Categoria Estadual, em função da implantação da Rede Rio de Computadores, da Faperj, em maio de 1992, a primeira a interligar instituições no Estado do Rio de Janeiro. Na ocasião, Fernando Peregrino era presidente e Zieli Dutra diretor científico da Fundação. Ambos deram total apoio e condições para a criação e funcionamento da Rede Rio, que desde então tem como coordenador técnico o professor Luis Felipe.
Conexão do Brasil com o exterior contou com o apoio de docentes da UFRJ
A articulação para conectar a UFRJ e, consequentemente, o Brasilna rede mundial começou em 1986, quando os professores da UFRJ Edmundo de Souza e Silva, do Programa de Engenharia de Sistema e Computação da Coppe, e Paulo Aguiar, do Instituto de Matemática, pediram formalmente à direção da Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, para apoiar no processo de ligação das universidades brasileiras com a Internet, conhecida na época como NSFNET. Edmundo e Paulo cursaram o doutorado na universidade americana, considerada o berço da Internet, e presenciaram de perto as vantagens e benefícios das conexões entre os grandes centros de pesquisas e universidades dos EUA e da Europa. “Era fundamental que o Brasil passasse a interagir em redes como essa, para um maior desenvolvimento da Ciência e Tecnologia no país”, ressaltou Edmundo. O acesso virtual à biblioteca da Universidade da Califórnia era um dos exemplos dos inúmeros benefícios da ligação.
O professor da Coppe explica que na Universidade da Califórnia funcionava o Centro de Estudo Latino Americano, e desenvolvia muitos projetos em parceria com instituições brasileiras. “Os pesquisadores desse centro tinham interesse em ampliar a interação com o Brasil, o que agilizou o processo de análise e autorização para o acesso do Brasil à Internet, por parte da National Science Foundation, fundação governamental americana equivalente ao CNPq. Isso ocorreu em 1987. A ligação internacional teve também o forte apoio do professor da Coppe, Nelson Maculan, quando era o Reitor da UFRJ”, relatou Edmundo.
Faperj investiu na atuação social da rede
Durante a solenidade, Fernando Peregrino ressaltou a satisfação de ter inaugurado pontos da Rede Rio em locais que favoreceram o aspecto social como, por exemplo, a Biblioteca Nacional e a rede Fomenet, que contribuiu com a campanha de combate à fome e à miséria. “Quanto mais discutíamos o projeto e ele se expandia para as instituições científicas, maior era meu empenho para que abríssemos a rede para escolas e outras entidades. Foi assim que ofereci ao diretor da Biblioteca Nacional, a oitava do mundo em acervo, uma oportunidade de entrar na rede mundial, e pouco tempo depois já inaugurávamos a conexão da biblioteca. Já a rede Fomenet foi inaugurada com o Betinho, cujo objetivo era mobilizar a comunidade científica a propor técnicas de produção de alimentos. Betinho ficou muito feliz com a iniciativa”, recorda.
Peregrino acrescenta que pouco tempo depois apresentou a Rede Rio ao governador Brizola e seu vice, Darcy Ribeiro, em uma sala de aula. “Durante a apresentação, eles ficaram impactados com o resultado de uma consulta à página da biblioteca do Congresso dos EUA, um dos maiores acervos do mundo. A busca mostrou que no site havia citações de obras escritas por Darcy Ribeiro e referências sobre o governador do Rio”, concluiu.
O professor Luis Felipe frisou que a implantação da Internet no Brasil foi possível em função do grande trabalho em equipe. Para ilustrar, destacou a atuação conjunta da Rede Rio com a RNP, que tornou possível o envio imediato das informações da Rio-92 para outros países, por parte dos jornalistas que vieram cobrir o evento. Luis Felipe lembrou que a RNP, que acabara de ser criada, ligou o Brasil a outros países a partir do canal de transmissão da Rede Rio, recém implantado. De acordo com o professor, muitos ficaram impressionados com a seriedade do trabalho e dos envolvidos nessa conexão. O resultado foi considerado um sucesso.
Ziele Dutra não pode comparecer ao evento, por problemas de saúde, mas foi representado pelo seu neto, Raphael Thomé. A agradecer a homenagem, o jovem, de 18 anos, disse que para Zieli, seu avô, seria muito importante e gratificante participar desse momento, que “seria um prazer imenso compartilhar esse momento com vocês. Eu nem era nascido e meu avô já construía para as próximas gerações”, concluiu visivelmente emocionado.
Os desafios nos primeiros anos da internet no Brasil
Nos primeiros anos ocorreram problemas na configuração do protocolo nos computadores do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ, e por isso, as primeiras conexões foram feitas via BitNet, a rede de conexão da IBM utilizada para interligar vários órgãos no mundo. Para ampliar o número de centros de pesquisas conectados, Edmundo conta que foi criado, no início de 1992, um grupo de trabalho que reuniu técnicos e pesquisadores da UFRJ, da PUC-Rio e do LNCC. O resultado principal foi a criação, no mesmo ano, da Rede Rio de Computadores, cuja proposta foi aceita e aprovada por Fernando Peregrino e pelo professor da Coppe,Zieli Dutra, respectivamente superintende e diretor científico da Faperj.
Ziele, que também havia se tornado usuário da BitNet para realizar suas pesquisas, foi um grande incentivador para a implantação de uma rede que interligasse os centros de pesquisas no Rio de Janeiro. Foi com seu parecer que a Fundação, além de financiar a Rede Rio, passou a ser sua sede. Sob coordenação técnica do professor da Coppe, Luis Felipe, ela já entrou em operação com um canal internacional exclusivo entre a UFRJ e a Universidade da Califórnia, em San Diego (UCDS), que operava via satélite a uma taxa de velocidade de 64 Kbits/s. Por meio desse canal a Rede-Rio se conectava à California Education and Research Federation Network (Cerf-Net) e, consequentemente, ao mundo virtual, como explica o professor da Coppe Luis Felipe.
No início a Rede Rio tinha como pontos principais a UFRJ, a PUC-Rio e o LNCC. Também estavam conectados como nós da rede a UFF, UERJ, Fiocruz, Impa, IPRJ, Ibase, CBPF, a própria Faperj, como fomentadora de pesquisa, e um ponto inicial da Rede Nacional de Pesquisa (RNP). O professor Luis Filipe diz que todas as suas linhas de comunicação permitiam transmissão de dados a 64 Kbits/s, uma velocidade que era considerada alta na época.
Fernando Peregrino explica que a criação da Rede Rio trouxe benéficos imediatos para os pesquisadores do estado que atuavam nas áreas de computação, informática e telecomunicações, incluindo os que desenvolviam aplicativos para a própria rede. Além disso, cita outras vantagens propiciadas nos anos iniciais, como a realização das primeiras videoconferências, ponto a ponto, que era uma novidade na época. Entre elas uma que teve a participação dele e do diretor da Coppe de um lado, e do reitor da PUC-Rio do outro.
Segundo Edmundo, paralelamente à UFRJ, pesquisadores da USP faziam o mesmo esforço de conexão com o exterior. E todos articulavam junto ao CNPq a criação de uma rede nacional. Como resultado, o CNPq, através do seu Diretor Científico, José Roberto Boisson de Marca, assinou em 1990 a criação de um órgão, a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), que começou a operar em 1992, conectando a Rede Rio com a rede formada em São Paulo a partir da USP e da Fapesp. Boisson integrava na época o comitê científico da RedeRio, juntamente com os professores Luiz Felipe, Paulo Aguiar e o próprio Edmundo. Hoje somam 1.500 universidades e instituições interligadas e conectadas à RNP.
O diretor geral da RNP, Nelson Simões, também lembrou o início das discussões nos anos 80 sobre a importância de se interligar pela Internet. “Os pesquisadores brasileiros que passavam tempo no exterior ficavam maravilhados com as tecnologias e quando retornavam viam que no Brasil ainda não tinha nada em termos de conexão. Na segunda metade dos anos 80 é que iniciaram os movimentos para o Brasil se conectar. E foi em 1992 que o país lançou a primeira rede nacional. Até então, somente a UFRJ e o LNCC tinham conexão com o exterior. A Rio 92 foi a oportunidade para a criação de uma rede que desse apoio a transmissão de dados para o exterior”, afirmou o diretor da RNP.