Todo esforço vale a pena
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Data: 14/09/2023
| Autor(a): Professora Suzana Kahn, diretora da Coppe/UFRJ
| Data do artigo: 14/09/2023
Professora Suzana Kahn, diretora da Coppe/UFRJ
A cada ano, cresce a preocupação de toda a sociedade sobre a necessidade de reduzir as emissões de carbono e evitar a ruptura definitiva dos padrões climáticos. Porém, também tem aumentado a certeza de que temos pouco tempo para alcançar tal objetivo.
As metas globais de corte na emissão de gases de efeito estufa (GEE) são discutidas constantemente nas conferências do clima e provocam uma transformação na economia mundial na tentativa de se conseguir estabilizar a concentração de carbono na atmosfera. Isto implica em zerar as emissões líquidas de carbono, o que não é um desafio fácil, pois a economia do planeta tem sido movimentada por combustíveis fósseis há mais de duzentos anos.
Neutralizar as emissões ou descarbonizar a economia mundial significa, na prática, reduzir o que se emite e aumentar a capacidade de absorção do planeta como, por exemplo, expandir as áreas florestais, que são grandes “sumidouros” de carbono, além de recuperar biomas degradados e garantir a existência de ecossistemas que, em uma cadeia planetária de influência mútua, possibilitam a existência da humanidade.
Inicialmente, nas convenções do clima, essa premissa partia sempre do desmatamento evitado. O conceito foi evoluindo para incorporar todos os esforços voltados para a redução das emissões decorrentes do desmatamento e degradação florestal, promover a conservação e o manejo sustentável (REDD+).
Em áreas privadas onde, de acordo com o Código Florestal Brasileiro, é possível desmatar legalmente um percentual máximo de vegetação nativa, que varia conforme o bioma, remunerar o dono da terra pode ser um eficiente recurso para que a floresta presente ali seja mantida em pé. Um importante instrumento, nesse sentido, é o crédito de carbono, muitas vezes apontado por alguns críticos como uma opção para poluidores continuarem suas atividades ambientalmente nocivas.
Mas a questão é muito mais complexa. Qualquer eventual risco associado à garantia de que a floresta está, de fato, adequadamente mantida, de que não há “vazamento” (conservação de uma área que leva ao desmatamento de outra) e que o carbono contido na vegetação nativa ou recuperada permanecerá por décadas, pode ser minimizado com sistemas de verificação robustos, transparência e monitoramento constante e eficiente.
É inegável que um ou outro projeto de geração de crédito de carbono possa ser criticado por não ter toda a necessária solidez. Aliás, qualquer discussão que apresente propostas concretas de melhoria para o sistema atual é sempre benéfica. Mas a falta de um debate qualificado não deve servir de impedimento para que a opção REDD+ possa melhorar continuamente rumo à integridade climática. Devemos usar todas as formas de conseguir que a concentração de carbono na atmosfera não aumente ainda mais, causando enormes danos, sobretudo aos mais vulneráveis.
Dada a urgência do problema, todas as alternativas disponíveis, incluindo a manutenção dos sumidouros de carbono e a redução das emissões, são absolutamente importantes, necessárias e complementares. Estamos em corrida contra o tempo, e precisamos unir nossos esforços pelo bem da nossa própria existência.
Artigo publicado no jornal Valor Econômico, em 14 de setembro
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