Urgência climática: Coppe recebe o climatologista Carlos Nobre
Planeta COPPE / Engenharia Civil / Notícias
Data: 26/02/2025

A Coppe recebeu nesta segunda-feira, 24/2, o renomado climatologista Carlos Nobre, da USP, conhecido como o “Guardião Planetário”. Ele abriu a conferência Silvanus, promovida pelo NTT – Núcleo de Transferência de Tecnologia da Coppe, trazendo um alerta urgente, mas realista, sobre a crise climática: “O mundo está se aproximando do ponto de não-retorno em vários de seus biomas mais sensíveis e essenciais para o equilíbrio ecológico planetário. Essa urgência deveria unir todas as nações”.
Doutor em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico e membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o cientista abordou os incêndios florestais – tema central da conferência – e as mudanças climáticas, destacando ações urgentes que tanto a comunidade internacional quanto o Brasil precisam adotar. Além disso, ressaltou a importância da pesquisa e inovação em energias renováveis, elogiando a liderança da Coppe nesse campo.
Segundo estudos do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Brasil enfrentou quase 240.000 incêndios florestais, sendo 98% deles causados pela ação humana. “Um grande desafio adicional que discutimos aqui é como combater a ilegalidade nos incêndios no Brasil. Precisamos de sistemas que detectem as chamas imediatamente, e não apenas uma ou duas horas depois, como ocorre hoje. Isso é uma questão urgente”, destacou.
Carlos Nobre enfatizou que não estamos lidando apenas com “mudanças climáticas”, mas sim com uma “emergência climática”. “Não existe um plano B para a Terra. Não há como escapar do nosso planeta. O último relatório do IPCC é claro: é um alerta vermelho para a humanidade”. O professor lembrou que 2024 foi o ano mais quente desde 1859, com um aumento de 1,55º C. “O jornal inglês The Guardian entrevistou 380 cientistas climáticos, e 77% acreditam que a temperatura global poderá ultrapassar 2,5º C até 2050”, informou.
Pontos de Não-Retorno

Carlos Nobre explicou ao público, que compareceu em grande número ao auditório da Coppe, que se o aquecimento global atingir 2,5º C, vários “pontos de não-retorno” podem ser acionados, fazendo com que as mudanças no ambiente se tornem irreversíveis. “Em 2021, 196 países em Glasgow (Escócia) concordaram em não deixar a temperatura global ultrapassar 1,5º C. Isso porque a ciência sabia que, caso o aumento passasse de dois graus, isso poderia levar à extinção de grande parte dos recifes de coral, que sustentam 25% da biodiversidade oceânica”.
Outro grande risco apontado pelo climatologista é o permafrost, que armazena grandes quantidades de metano – um gás 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono. “Se a temperatura global ultrapassar os dois graus, mais de 200 bilhões de toneladas desse gás serão liberadas, um ponto de inflexão perigoso”.
Ele também abordou o fenômeno das correntes Amoc, fundamentais para o equilíbrio climático do planeta. “Esse sistema de circulação oceânica, que transporta águas quentes e frias entre os hemisférios, está diminuindo. Se a corrente for interrompida, isso alteraria o clima de grande parte do mundo, afetando até mesmo o clima da Grã-Bretanha e de outros países do norte”.
Na Amazônia, o climatologista detalhou três possíveis cenários de não-retorno, com variações de aquecimento e desmatamento, e destacou que estamos “perigosamente próximos” de um ponto crítico. “A Amazônia já sofre com mais cinco semanas de estação seca a cada ano, o que torna a floresta menos resiliente. Se a Amazônia for perdida, poderemos liberar mais de 250 bilhões de toneladas de CO2”.
Carlos Nobre também alertou sobre a possibilidade de o aquecimento global atingir até 4º C até 2100, se a destruição de ecossistemas continuar, o que poderia liberar vírus desconhecidos. “A Fiocruz e o Instituto Evandro Chagas já mapearam 48 zoonoses, com duas se tornando epidêmicas, como a febre de Oropouche. Estamos à beira de possíveis pandemias a cada década”.
Como evitar a catástrofe?
Diante dessas previsões alarmantes, o Brasil pode contribuir com ações imediatas para mitigar os danos, segundo Carlos Nobre. “Devemos zerar o desmatamento legal e ilegal, combater a ilegalidade, promover a restauração ambiental e adotar uma nova bioeconomia com florestas preservadas e rios saudáveis”. Ele ressaltou a importância de adaptar o país aos eventos climáticos, como a implementação de transportes públicos sustentáveis, a proteção de áreas vulneráveis a deslizamentos e inundações, e a promoção da agropecuária regenerativa.
O climatologista também enfatizou o enorme potencial energético dos oceanos. “Desde a gestão do professor Pinguelli, a Coppe tem liderado estudos sobre energias renováveis no oceano, com destaque para a conversão de energia térmica. A Coppe é referência nesse campo”, concluiu.
Para saber mais sobre o assunto
Confira a coluna do professor Carlos Nobre no site Ecoa: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/carlos-nobre/
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