A imagem do aluno de doutorado da Coppe/UFRJ, Sami Ayad, sorridente em seu primeiro dia de trabalho voluntário em um centro de distribuição de alimentos em Londres, foi uma das cem fotografias escolhidas para compor a exposição Hold Still, idealizada pela Duquesa de Cambridge para mostrar os laços sociais de empatia e solidariedade no Reino Unido durante a pandemia.
Mestre em Engenharia Mecânica pela Coppe, Sami pesquisa o desempenho e as emissões de um sistema motor-gerador operando a etanol com adição de hidrogênio, sob orientação do professor Carlos Rodrigues Belchior. O aluno cursa doutorado no Programa de Engenharia Mecânica (PEM) e está em período sanduíche na Aston University, em Birmingham.
A Rainha Elizabeth II disse ter se sentido inspirada ao ver a resiliência demonstrada pelo povo demonstrada no projeto fotográfico de lockdown liderado pela Duquesa de Cambridge. Kate Middleton idealizou o “Hold Still”, projeto que ela esperava que pudesse registrar a vivência da pandemia pelo país, por meio de fotografias.
Lançado em maio, em parceria com a National Portrait Gallery, foram recebidas 31 mil imagens ao longo de seis semanas, com 100 delas sendo escolhidas pela duquesa e um painel de personalidades.
“Eu e a duquesa ficamos inspiradas pelo modo como as fotografias capturaram a resiliência do povo em tempos tão difíceis, seja celebrando os trabalhadores da linha de frente no combate à pandemia, reconhecendo o espírito comunitário ou mostrando o esforço de indivíduos ajudando aqueles em necessidade”, destacou a Rainha.
Hold Still focou em três temas que documentam como o Reino Unido enfrentou a pandemia, incluindo ajudantes e heróis, o novo normal e gestos de gentileza. As imagens mostram vida em família durante o lockdown, o trabalho de profissionais da saúde e o movimento Vidas Negras Importam (Black Lives Matter).
O fotógrafo Grey Hutton conheceu Sami no seu primeiro dia de voluntariado no Children With Voices Community Food Hub em Hackney, Londres. O retrato do aluno da Coppe foi parte de um projeto mais amplo de documentação das redes de trabalho voluntário em Hackney, durante a pandemia. “São gestos cotidianos de gentileza e solidariedade como o de Sami que uniram as comunidades durante esta crise”, afirmou Hutton.
“O Sami é muito consciente do seu papel social, além de ser um bom aluno, com dois artigos publicados, preparando o terceiro. Sempre ajudou seus colegas de pós-graduação, com programas de simulação de motores e o fazia por puro companheirismo”, elogia seu orientador, o professor Carlos Belchior, dos programas de Engenharia Mecânica e de Engenharia Oceânica da Coppe.
A exibição digital das imagens pode ser vista em http://npg.org.uk/holdstill.
“O afeto é revolucionário”
O envolvimento de Sami com o trabalho voluntário é marcado por duas tragédias particulares. No dia 18 de agosto de 2018, seu primo Ayman faleceu. Foi um momento muito difícil, que Sami superou com o apoio da família, da namorada Helen Frost e do treinamento no projeto de extensão, “Alunos Contadores de Histórias”, realizado no Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira (IPPMG/UFRJ). “Ir ao hospital, mesmo quando eu não estava bem, foi essencial em ter a perspectiva de que a minha dor não é maior, mas também menor, do que a de ninguém”, explica.
Em janeiro de 2020, dias antes de viajar para a Inglaterra onde começaria o período de estudos na Aston University, sobreveio nova tragédia com o falecimento de seu amigo Oscar Mesquita, no Rio de Janeiro, o qual visitara um ano antes, em Salvador, com sua prima Azza, irmã do falecido Ayman. “Em Aston, decidi ir à terapia para lidar com a perda de Oscar. Foi quando a terapeuta me sugeriu fazer trabalho voluntário, pois ajudar o próximo, ajuda a ter perspectiva e ajuda no processo de cura. Lembrando de como foi a minha experiência no projeto dos Alunos Contadores de Histórias, me inscrevi para um projeto semelhante no hospital infantil de Birmingham”, conta Sami.
Quando Sami estava pronto para iniciar seu projeto de pesquisa, a pandemia de Covid-19 eclodiu no Reino Unido, e o aluno da Coppe teve autorização para ficar em quarentena em Londres, onde sua companheira Helen Frost trabalha em um hospital pediátrico.
“Helen apresentou sintomas de Covid-19 e tivemos que entrar em quarentena por duas semanas. Ao término da primeira semana, vi uma movimentação ao olhar pela janela e parecia algum tipo de rede de apoio, ou trabalho voluntário. Na semana seguinte, quando terminamos a quarentena, olhei pela janela e novamente vi aquela movimentação. Lembrando-me da decepção de não poder ter podido fazer trabalho voluntário antes, fiquei imaginando se era a oportunidade que eu queria”, relembra o aluno do Programa de Engenharia Mecânica.
Sami foi recebido por Michelle Dornelly, fundadora da Children With Voices e da Community Food Hub, e imediatamente acolhido. “A Michelle e as mulheres que trabalham no Hub são exemplos de coragem, dedicação à comunidade, compaixão, empatia, força, alegria, resiliência e boa energia, e essa iniciativa é algo tão lindo. Alimentando quem precisa, sem pedir nada em troca”, enaltece.
Segundo Sami, por coincidência, no mesmo dia, o fotógrafo Grey Hutton visitou o Community Food Hub, para documentar a resposta das comunidades à pandemia, como parte de um projeto do National Geographic Society’s Emergency Fund for Journalists.
“Neste período de pandemia, aprendi também sobre como é importante cuidar de seu bem estar, seja físico, mental ou social, e como quando a gente se sente bem, a gente consegue fazer as coisas bem, em qualquer aspecto da vida, inclusive academicamente. E uma das melhores maneiras de buscar o bem estar próprio, eu aprendi que é tentando amenizar o sofrimento do próximo. Nesse sentido, aprendi também sobre humanidade e sobre como o afeto é revolucionário, e transcende fronteiras, culturas e idiomas”, conclui Sami Ayad.
Também no Brasil, há diversas iniciativas de trabalho voluntário, financiamento coletivo e outras maneiras de apoiar quem necessita, neste momento em que o país e o mundo enfrentam as consequências sociais da pandemia de Covid-19. Conheça algumas: https://benfeitoria.com/canal/rededeapoio.
Mais sobre Sami
Nascido em Cartum (capital do Sudão), Sami Elmassalami Ayad, veio com a família para o Brasil, em 1992, com apenas três anos, no dia em que o Senado aprovava o impeachment do ex-presidente Fernando Collor.
Graduou-se em Física na Fisk University, em Nashville, Tennessee, e fez seus mestrado em Engenharia Mecânica na Coppe, sob orientação dos professores Marcelo Colaço e do professor Manuel Cruz. “Ao longo do mestrado, me faltou maturidade. Agradeço muito a ambos, pela compaixão e pelo aprendizado ao longo de nossa convivência, tanto como aluno quanto como ser humano”, reconhece Sami, que também enaltece o atual orientador, o professor Carlos Rodrigues Pereira Belchior. “Ele me acolheu num momento difícil e me deu uma oportunidade quando eu mais precisava para recomeçar do zero. Além de um excelente pesquisador, é um orientador atencioso, e um ser humano incrível”.